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sábado, 2 de junho de 2012

Bento XVI diz que Estado deve zelar pelo casamento heterossexual

Papa defendeu ainda uma "construtiva" colaboração entre o Estado e a Igreja para enfrentar os tempos de crise que atingem parte do planeta neste momento

Papa Bento XVI (Foto: EFE/Luca Bruno)

O papa Bento XVI disse neste sábado (2) que o Estado deve estar a serviço da pessoa e zelar pelo direito da família, "baseada no casamento entre um homem e uma mulher".
O pontífice fez essas declarações durante o encontro que teve com autoridades, empresários, trabalhadores, artistas e educadores da região italiana da Lombardia na sede do arcebispado de Milão, onde se aloja durante sua estada na cidade para presidir o 7º Encontro Mundial das Famílias.
O bispo de Roma destacou que o Estado tem de reconhecer a identidade própria da família, "baseada no casamento entre um homem e uma mulher, aberta à vida", e o direito primário dos pais à livre escolha da educação e formação de seus filhos, "segundo o projeto educacional que considerem válido e pertinente".
"Não se faz justiça à família se o Estado não sustentar a liberdade de educação para o bem comum de toda a sociedade", ressaltou o papa.
Durante o evento, transmitido ao vivo pelo Centro Televisivo Vaticano CTV, o papa afirmou que, embora a concepção do estado confessional esteja superada, suas leis devem encontrar justificativa e força na lei natural, "que é o fundamento de uma ordem adequada à dignidade do ser humano".
"O Estado está a serviço e à tutela da pessoa, de seu bem-estar em seus múltiplos aspectos, começando com o direito à vida, que jamais pode ser suprimido deliberadamente", manifestou.
Bento XVI defendeu uma "construtiva" colaboração entre o Estado e a Igreja, sem que haja confusões sobre o papel de cada um, para enfrentar os tempos de crise que atingem parte do planeta neste momento. Nesse sentido, ele ressaltou a laicidade do Estado e disse que esse aspecto deve garantir a liberdade "para que todos possam propor sua visão da vida comum respeitando os demais e no contexto das leis que prezam pelo bem comum".
O pontífice também fez uma grande apologia à liberdade: "não é um privilégio para alguns, mas um direito para todos, um valioso direito que o poder civil deve garantir".
Ao falar sobre o papel dos líderes mundiais, o papa enfatizou que a principal qualidade de quem governa é a justiça, "virtude pública por excelência, porque impacta no bem de toda a comunidade".
Antes de se reunir com os representantes da sociedade milanesa, o papa manteve um encontro com o cardeal Carlo Maria Martini, de 85 anos. Ainda neste sábado, Bento XVI se deslocará ao parque de Bresso, em Milão, onde se reunirá com as milhares de famílias de todo o mundo - de mais de 100 nações - que participam do evento em uma vigília chamada "Festa do Testemunho"

domingo, 27 de maio de 2012

A APARIÇÃO DA SANTÍSSIMA VIRGEM NA MONTANHA DE LA SALETTE A 19 DE SETEMBRO DE 1846



Publicado pela Pastorda Salette com Imprimatur dMons. BispdLecce


"Pois bem, meus filhos, vocês transmitirão isto a todo o meu povo.


Nota do tradutor Este texto encontra-se reproduzido no livro de Léon Bloy "Celle que pleure", ed. Mercure dFrance, Paris1949

Obs d Léon  Bloy:  As  notas  que  acompanham   texto   que  formam  um comentário à narrativa da Pastora, são da pena de um excelente padre que teve a honrde conhecer Mélani pessoalmente, e de ser seu diretor espiritual durante os últimos anos dsua vida.




No dia 18 de setembro, véspera da santa Aparição da Santa Virgem, eu estava sozinha, como de costume, cuidando das quatro vacas de meus Senhores.  Por volta das onze horas da manhã, vi chegar perto de mim um garotinho.  Assustei-me ao vê-lo, pois pensava que todo mundo devia saber que eu fugia de toda espécie de companhia.  Esse menino aproxima-se de mim e diz: "Menina, vim ficar contigo; também sou de Corps." Ouvindo isso, minha natural maldade logo se fez sentir, e, dando alguns passos para trás, disse-lhe: "Não quero companhia, quero ficar sozinha." Depois me afastei, mas o garoto me seguia(1) dizendo: "Ah, me deixaeu ficar contigo; meu senhor mandou que eu cuidasse das minhas vacas junto com as tuas; eu sou de Corps."
Afastei-me dele, fazendo-lhe sinais de que não queria companhia; e depois de me ter afastado, sentei-me na grama.  Ali, tinha minhas conversas com as florzinhas do Bom Deus.
Logo depois, olhei para trás e encontrei Maximin sentado bem perto de mim.  Ele me disse sem demora: "Fica comigo, eu me comporto(2)." Mas minha maldade natural não queria aceitar.  Levantei-me rápido e fugi para um pouco mais longe sem dizer nada, e voltei a brincar com as flores do Bom Deus.   Um instante depois, Maximin estava lá de novo, a me dizer que seria bem comportado, que não falaria nada, que ficaria triste sozinho, e que seu Senhor o tinha enviado para junto de mim, etc... Desta vez tive piedade e fiz-lhe sinal para sentar-se, e continuei com as florzinhas do Bom Deus.
Maximin não demorou a romper o silêncio, e começou a rir (pensei que zombava de mim); olhei para ele, que me disse: "Vamos brincar, vamos fazer um jogo." Não respondi nada, eu era tão ignorante que não sabia nada de jogos, pois estava sempre sozinha. 
Brincava sozinha com as flores, e Maximin, aproximando-se mais de mim, só fazia rir, dizendo-me que as flores não tinham orelhas para ouvir-me, e que devíamos jogar juntos. Mas  eu não tinha nenhuma inclinação para o jogo que ele propunha. Entretanto, comecei a falar com ele, e ele me disse que os dez dias que deveria passar com seu Senhor terminariam depressa, e que em seguida voltaria a Corps para junto de seu pai, etc... 
Enquanto ele falava, o sino de La Salette tocou; era o Ângelus; fiz sinal para Maximin elevar sua alma a Deus. Ele descobriu a cabeça e guardou um momento de silêncio. Em seguida eu lhe disse: "Quer almoçar?" - "Sim, respondeu. Vamos." Sentamos; tirei de minha sacola as provisões que meus Senhores me haviam dado, e como de hábito, antes de partir meu pequeno pão redondo, fiz com a ponta de minha faca uma cruz sobre ele, e no meio dela um pequeno buraco, dizendo:  "Se o diabo está aí, que saia, e se o Bom  Deus  está aí, que fique", e rapidamente tapei o buraco. Maximin soltou uma grande risada, dando um pontapé em meu pão, que escapou de minhas mãos e rolou montanha abaixo, perdendo-se. 
Eu tinha um outro pedaço de pão, e nós dois o comemos; em seguida fizemos um jogo; depois,  percebendo que Maximin tinha necessidade de comer(3), indiquei-lhe um lugar da montanha que estava repleto de pequenos frutos. Exortei-o a ir até lá para comer, o que fez sem demora; comeu e voltou com o chapéu cheio deles.  À tardinha, descemos juntos a montanha, e combinamos voltar a cuidar de nossas vacas juntos.
No dia seguinte, 19 de setembro(4), encontrei-me com Maximin no caminho, e subimos juntos a montanha.  Vi que Maximin era muito bom, muito simples, e que falava de bom grado sobre o que eu  queria falar; era também muito flexível, não dando excessiva importância a seus sentimentos; era apenas um pouco curioso, pois quando eu me distanciava dele, se me via parar, corria logo para ver o que eu fazia, e ouvir o que eu dizia para as flores do Bom Deus; e se não chegava a tempo, perguntava o que eu tinha dito.  Maximin me pediu para ensinar-lhe um jogo.  A manhã já estava adiantada; disse que colhesse flores para fazer o "Paraíso(5)".
Pusemos mãos à obra; e logo tínhamos uma quantidade de flores de diversas cores.  Ouvimos o Ângelus da cidade, pois o céu estava azul, sem nuvens.  Depois de ter dito ao Bom Deus o que sabíamos, disse a Maximin que devíamos conduzir nossas vacas para um pequeno planalto perto de um  pequeno barranco, onde havia pedras para construir o "Paraíso". Conduzimos nossas vacas até o local  designado, e em seguida comemos nossa pequena refeição; depois, começamos a carregar as pedras e a construir nossa casinha, que consistia em um assoalho, que era, por assim dizer, nossa habitação, e de um andar acima, que era para nós o "Paraíso". 
Esse andar estava todo enfeitado com flores de diferentes cores, com coroas penduradas pelos talos das flores.  Esse "Paraíso" estava coberto por uma única e larga pedra que tínhamos recoberto de flores; também tínhamos pendurado coroas ao redor. Terminado o   "Paraíso",  ficamos olhando-o; tivemos sono; afastamo-nos dali cerca de dois passos, e adormecemos sobre a grama.

A Bela Senhora sentou-se em nosso "Paraíso" sem danificá-lo(6). 

O despertar, e não avistando nossas vacas, chamei Maximin e subi o pequeno  montículo. Dali, tendo visto que nossas vacas estavam deitadas tranqüilamente, vinha descendo e Maximin subindo quando, de repente, vi uma bela luz mais brilhante que o sol, e mal consegui dizer essas palavras:  "Maximin, podes ver, lá embaixo? Ah, meu Deus!" Ao mesmo tempo deixei cair o cajado que tinha nas mãos. Não sei o que se passava em mim de delicioso nesse momento, mas me senti atraída, senti um grande respeito cheio de amor, e meu coração queria correr mais rápido do que eu(7). Olhei com muita força essa luz que estava imóvel, e como se ela fosse se abrindo, percebi uma outra luz bem mais brilhante e que estava em movimento, e nessa luz uma Belíssima Senhora sentada em nosso "Paraíso", tendo a cabeça pousada sobre as mãos. Essa Bela Senhora levantou-se, cruzou os braços sobre o peito enquanto nos olhava e nos disse: "Venham, meus filhos, não tenham medo; estou aqui para anunciar uma grande nova." Essas doces e suaves palavras fizeram-me voar até ela, e meu coração queria unir-se a ela para sempre. Tendo chegado bem junto à Bela Senhora, perante ela, à sua direita, ela começa o discurso, e lágrimas começam a rolar de seus belos olhos: Se meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar agir o braço de meu Filho.  Ela é tão forte e pesada que não posso mais contê-la. Há quanto tempo sofro por vocês! Se quiser que meu Filho não os abandone, sou obrigada a suplicá-lo incessantemente. E vocês nem se importam com isso. Por mais que rezem, por mais que façam, jamais poderão recompensar a aflição que tenho sofrido por vocês. Eu lhes dei seis dias para trabalhar, e reservei-me o sétimo, e não me querem concedê-lo(8). É isso que faz pesar tanto o braço de meu Filho. Os que guiam as carroças não sabem falar sem utilizar o Nome de meu Filho(9).  São essas duas coisas que tornam tão pesado o braço de meu Filho.   
Se a colheita se estraga, é unicamente por causa de vocês. Tentei fazê-los compreender isso no ano passado através das batatinhas, e vocês não deram importância; ao contrário, quando viram os estragos, blasfemaram e utilizaram o Nome de meu Filho.  Elas continuarão a estragar; e no Natal, não sobrará nenhuma. Eu procurava interpretar a expressão: batatinha(a); achava que significava maçã(b). A Bela e Boa Senhora, adivinhando meu pensamento, recomeçou assim:
Não compreendem meus filhos?
Direi de outra maneira(c).  Se a  colheita  se  estraga,  é  unicamente  por  causa  de  vocês;  tentei  fazê-los compreender   isso  no  ano  passado  através  das  batatinhas,  e  vocês  não  deram importância; ao contrário, quando viram os estragos, blasfemaram e usaram o Nome de meu Filho. Elas continuarão a estragar; e no Natal, não sobrará nenhuma. Se vocês têm grãos de trigo, não devem semeá-los. Tudo o que semearem, será devorado pelos insetos; e o que sobrar virará poeira quando o colherem. Virá uma grande fome. Antes que a fome venha, as criancinhas com menos de sete anos sofrerão um tremor e morrerão nos braços das pessoas que as carregam; os outros farão penitência através da fome.  As nozes ficarão imprestáveis; as uvas apodrecerão(10).
Aqui, a Bela Senhora que me falava, permaneceu um momento em silêncio; vi, entretanto que continuava a mover graciosamente seus amáveis lábios, como se ainda falasse.  Maximin recebia então seu segredo.  Depois, dirigindo-se a mim, a Santíssima Virgem me falou, e me deu um segredo em francês.  Esse segredo, ei-lo por inteiro, e tal qual ela mo entregou:

1. - Mélanie, o que vou lhe dizer agora não ficará sempre em segredo; poderá publicá-lo em 1858(11).
2. - Os padres, ministros de meu Filho, os padres, por sua má vida, por suas irreverências e sua impiedade ao celebrar os santos mistérios, por seu amor ao dinheiro, seu amor à honra e aos prazeres, os padres transformaram-se em cloacas de impureza. Sim, os padres  pedem  vingança, e  a  vingança  está  suspensa  sobre  suas cabeças. Infelizes dos padres e das pessoas consagradas a Deus que, por suas infidelidades e sua má vida, crucificam novamente meu Filho!  Os pecados das pessoas consagradas a Deus clamam ao Céu e exigem vingança, e eis que a vingança está às suas portas, pois não se encontra mais ninguém para implorar misericórdia e perdão pelo povo; não há mais almas generosas, não há mais ninguém digno de oferecer a Vítima sem mácula ao Eterno em favor do mundo. 
3. - Deus vai golpear de maneira jamais vista. 
4. -Infelizes dos habitantes da terra! Deus vai espalhar sua cólera, e ninguém poderá subtrair-se a tantos males reunidos. 
5. -Os chefes, os condutores do povo de Deus têm negligenciado a prece e a penitência, e o demônio obscureceu sua inteligência; transformaram-se nessas estrelas errantes que o velho diabo  arrastará com sua cauda para fazê-las perecer. Deus permitirá  à  velha  serpente  fomentar  divisões  entre  os  governantes,  em  todas  as sociedades e em todas as famílias; haverá sofrimentos físicos e morais; Deus abandonará os homens a si mesmos e enviará castigos que suceder-se-ão durante mais de trinta e cinco anos. 
6. - A Sociedade está às vésperas dos mais terríveis flagelos e de grandíssimos acontecimentos;  vocês deverão ser governados por uma vara de ferro e vão beber o cálice da cólera de Deus. 
7. - Que o Vigário de meu Filho, o soberano Pontífice Pio IX, não saia mais de Roma depois do ano de 1859; que seja firme e generoso, que combata com as armas da fé e do amor; eu estarei com ele.
8. - Que não confie em Napoleão; seu coração é doble, e quando quiser ser a uma só vez Papa e imperador, imediatamente Deus vai retirar-se dele; ele é essa águia que, querendo subir cada vez mais, cairá sobre a espada que utilizou para obrigar os povos a elevá-la. 
9. - A Itália será punida por sua ambição em querer livrar-se do jugo do Senhor dos Senhores; também ela será entregue à guerra; o sangue correrá por todos os lados; as igrejas serão fechadas ou profanadas; os padres, os religiosos serão perseguidos; serão mortos, e mortos de uma morte cruel. Muitos abandonarão a fé e o número de padres e de religiosos que se vão separar da verdadeira religião será grande; entre essas pessoas serão encontrados até Bispos. 
10. - Que o Papa tome cuidado contra os fazedores de milagres, pois é chegado o tempo em que os prodígios mais espantosos acontecerão sobre a terra e nos ares. 
11. - No ano de 1864, Lúcifer e um grande número de demônios serão libertados do inferno: eles abolirão a fé pouco a pouco e mesmo nas pessoas consagradas a Deus; eles as cegarão de tal maneira, que exceto por uma graça particular, tais pessoas possuirão o espírito desses anjos maus; várias casas religiosas perderão inteiramente a fé e perderão muitas almas. 
12. - Os maus livros abundarão sobre a terra, e os espíritos das trevas espalharão um descaso universal por tudo aquilo que se refere ao serviço de Deus; eles terão um grande poder sobre a natureza; haverá igrejas para servir a esses espíritos. Pessoas serão  transportadas de um lugar para outro por esses maus espíritos, e até mesmo padres, porque não serão mais conduzidos pelo bom espírito do Evangelho, que é um espírito de humildade, de caridade e de zelo pela glória de Deus. Serão ressuscitados mortos e justos (ou seja, esses mortos tomarão a figura de almas justas que tenham vivido sobre a terra, a fim de melhor seduzir os homens; esses assim chamados mortos ressuscitados, que não serão outra coisa senão o demônio sob suas figuras, pregarão um outro Evangelho contrário ao do verdadeiro Cristo Jesus, negando a existência do Céu, ou então serão as almas dos danados. Todas essas almas aparecerão como unidas a seus corpos). Haverá em todos os lugares prodígios extraordinários, porque a verdadeira fé estará extinta e a falsa luz iluminará o mundo. Infelizes dos Príncipes da Igreja que só estiverem ocupados em acumular  riquezas  sobre  riquezas,  em  salvaguardar  sua autoridade e em dominar com orgulho. 
13. -O Vigário de meu Filho terá muito o que sofrer, porque, durante um tempo, a Igreja será entregue a grandes perseguições; será o tempo das trevas; a Igreja sofrerá uma terrível crise.  
14. -  Estando esquecida a santa fé de Deus, cada indivíduo vai querer guiar-se por si mesmo  e  ser superior a seus semelhantes. Serão abolidos os poderes civis e eclesiásticos,  toda  ordem  e  toda  justiça  serão  calcadas  aos  pés;  ver-se-á  somente homicídios, ódio, inveja, mentira e discórdia, sem amor pela pátria nem pela família. 
15. - O Santo Padre sofrerá muito. Eu estarei com ele até o fim para receber seu sacrifício. 
16. - Os iníquos atentarão várias vezes à sua vida sem conseguir diminuir os seus dias; mas nem ele, nem seu sucessor..., verão o triunfo da Igreja de Deus. 
17. - Os governantes civis terão todos o mesmo objetivo, que será abolir e fazer desaparecer  todo princípio religioso, para dar lugar ao materialismo, ao ateísmo, ao espiritismo e a toda espécie de vícios. 
18. - No ano de 1865, ver-se-á a abominação nos lugares santos; nos conventos, as flores da  Igreja estarão podres e o demônio tornar-se-á como o rei dos corações. Que aqueles que estão à  frente das comunidades religiosas tomem cuidado com as pessoas que  devem  acolher,  porque  o  demônio  usará  de  toda  a sua  malícia  para introduzir nas ordens religiosas pessoas afeiçoadas ao  pecado, pois as desordens e o amor aos prazeres carnais serão espalhados por toda a terra.
19. - A França, a Itália, a Espanha e a Inglaterra estarão em guerra; o sangue escorrerá pelas ruas; o francês lutará contra o francês, o italiano contra o italiano; depois haverá uma guerra geral que será aterradora.  Por um tempo, Deus não se lembrará da França nem da Itália, porque o Evangelho de Jesus Cristo não é mais conhecido. Os iníquos  irão  deplorar  toda  sua  malícia; os homens se matarão, vão massacrar-se mutuamente até dentro de suas casas. 
20. - Ao primeiro golpe de sua espada fulminante, as montanhas e a terra inteira tremerão de assombro, porque as desordens e os crimes dos homens ferem a abóbada dos céus.  Paris será incendiada e Marselha será arruinada, muitas cidades grandes serão incendiadas e arruinadas pelos  tremores de terra; tudo parecerá perdido; só se verá homicídios, só se ouvirá ruídos de armas e blasfêmias. Os justos sofrerão muito; suas preces, sua penitência e suas lágrimas subirão até o Céu, e todo o povo de Deus pedirá perdão e misericórdia, e pedirá minha ajuda e intercessão.   Então Jesus Cristo, por um ato de sua justiça e de sua grande misericórdia para com os justos,  ordenará a seus anjos que todos os seus inimigos sejam mortos. Imediatamente os perseguidores da Igreja de Jesus Cristo e todos os homens afeiçoados ao pecado perecerão, e a terra ficará um  deserto. Então virá a paz, a reconciliação de Deus com os homens; Jesus Cristo será servido, adorado e glorificado; a caridade florescerá por todos os lugares.  Os novos reis serão o braço direito da Santa Igreja, que será forte, humilde, piedosa, pobre, zelosa e imitadora das virtudes de Jesus Cristo.  O Evangelho será pregado por todos os lugares, e os homens farão grandes progressos na fé, porque haverá unidade entre os trabalhadores de Jesus Cristo e porque os homens viverão no temor de Deus.
21. - Essa paz entre os homens não será muito longa; vinte e cinco anos de abundantes colheitas farão com que esqueçam que os pecados dos homens são a causa de todos os sofrimentos que surgem sobre a terra. 
22. - Um precursor do anticristo, com suas turbas de várias nações, combaterá contra o verdadeiro Cristo, o único Salvador do mundo; derramará muito sangue e vai querer aniquilar o culto de Deus, a fim de ser visto como um Deus. 
23. - A terra será golpeada por toda espécie de aflições (além da peste e da fome, que serão gerais); haverá guerras até chegar a última guerra, que será feita pelos dez reis do anticristo, os quais terão todos um mesmo objetivo e serão os únicos a governar o mundo.  Antes que isto aconteça, haverá uma espécie de falsa paz no mundo; todos pensarão apenas em se divertir; os iníquos vão entregar-se a toda espécie de pecados; mas os filhos da Santa Igreja, os filhos da fé, meus verdadeiros imitadores, crescerão no amor de Deus e nas virtudes que me são mais caras. Felizes das almas humildes que são conduzidas pelo Espírito Santo!  Eu combaterei junto com elas até que cheguem à plenitude de seus anos. 
24. - A natureza pede  vingança  aos homens, e freme de  espanto na espera daquilo que deve acontecer à terra encharcada de crimes. 
25. - Treme, ó terra, e vós que fazeis profissão de servir a Jesus Cristo e que, por dentro, adorais a vós mesmos, tremei; pois Deus vai entregar-vos a seu inimigo, pois os lugares santos estão na corrupção; muitos conventos não são mais casas de Deus, mas as pastagens de Asmodeu e dos seus. 
26. - Será nesse tempo que nascerá o anticristo, de uma religiosa hebraica, de uma falsa virgem que terá ligações com a velha serpente, o mestre da impureza; seu pai será Ev.(d); nascendo, vomitará blasfêmias, e terá dentes; em uma palavra, será o diabo encarnado;  possuirá  gritos  medonhos,  fará  prodígios,  terá  por  alimento  somente impurezas.  Terá irmãos que, embora não sejam demônios encarnados, como ele, serão filhos do mal; quando ele completar 12 anos, eles se farão notar pelas corajosas vitórias que alcançarão; em pouco tempo cada um deles estará à frente de exércitos, assistidos por legiões do inferno. 
27. - As estações do ano serão transformadas, a terra só produzirá maus frutos, os astros perderão seus movimentos regulares, a lua refletirá apenas uma fraca luz avermelhada; a água e o fogo causarão ao globo terrestre movimentos convulsivos e horríveis tremores de terra, que farão desaparecer montanhas, cidades (etc.). 
28. - Roma perderá a fé e tornar-se-á a sede do anticristo. 
29. - Os demônios do ar, unidos ao anticristo, farão grandes prodígios sobre a terra e pelos ares, e os homens estarão cada vez mais pervertidos. Deus cuidará de seus fiéis seguidores e dos homens de boa vontade; o Evangelho será pregado por todos os lugares, todos os povos e todas as nações terão conhecimento da verdade! 
30. - Faço um urgente apelo à terra; invoco os verdadeiros discípulos do Deus vivo e reinante nos céus; invoco os verdadeiros imitadores de Cristo feito homem, o único e verdadeiro Salvador dos homens; invoco meus filhos, meus verdadeiros devotos, aqueles que se ofereceram a mim para que eu os conduza a meu Filho, aqueles que por assim dizer carrego em meus braços, aqueles que têm vivido de meu espírito; enfim, invoco os Apóstolos dos Últimos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo que  têm vivido no desprezo do mundo e de si mesmos, na pobreza e na humildade, no esquecimento e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento e desconhecidos do mundo.  É tempo de sair e ir iluminar a terra.  Vão e mostrem-se como meus filhos queridos; estou com vocês e em vocês, desde que sua fé seja a luz que os ilumina nesses dias de misérias. Que o seu zelo os torne famintos pela glória e pela honra de Jesus Cristo.  Combatam, filhos da luz, vocês, o pequeno número que o quiser; pois eis os tempos dos tempos, o fim dos fins. 
31. - A Igreja será eclipsada, o mundo cairá na consternação. Mas eis Enoc e Elias cheios do Espírito de Deus; eles pregarão com a força de Deus, e os homens de boa vontade acreditarão em Deus, e muitas almas serão consoladas; eles farão grandes progressos pela virtude do Espírito Santo e condenarão os erros diabólicos do anticristo. 
32. - Infelizes  dos habitantes da  terra! Haverá  guerras sangrentas e fomes, pestes e doenças contagiosas; haverá chuvas de uma quantidade espantosa de animais; raios que abalarão as cidades; tremores de terra que engolirão países; ouvir-se-ão vozes pelos ares; os homens golpearão a cabeça contra as muralhas; pedirão pela morte e, por outro lado, a morte fará o seu suplício; o sangue escorrerá por todos os lados. Quem poderá triunfar se Deus não abreviar  os  tempos de provação? É pelo sangue, pelas lágrimas e pelas preces  dos justos que Deus vai se deixar dobrar; Enoc e Elias serão levados à morte; a Roma pagã desaparecerá; o fogo do Céu descerá e consumirá três cidades; todo o universo será tocado pelo terror, e muitos vão se deixar seduzir por não terem adorado o verdadeiro Cristo vivo entre eles. É o  tempo; o sol se obscurece; somente a fé viverá. 
33. - Eis o tempo; abre-se o abismo. Eis o rei dos reis das trevas. Eis a besta com seus súditos, dizendo-se o salvador do mundo.  Ele vai se elevar com orgulho pelos ares para chegar até o céu; será exterminado pelo sopro de São Miguel Arcanjo.  Cairá, e a terra, que terá estado por três dias em contínuas evoluções, abrirá seu seio pleno de fogo; ele será submerso para sempre com todos os seus nos abismos eternos do inferno. Então a água e o fogo purificarão a terra e consumarão todas as obras do orgulho dos homens, e tudo será renovado: Deus será servido e glorificado. 

Em seguida a Santa Virgem me deu, também EM FRANCÊS, a Regra de uma nova Ordem religiosa. Depois de me ter dado a Regra dessa nova Ordem religiosa, a Santa Virgem retomou assim seu discurso:
"Se se converterem, as pedras e as rochas serão transformadas em trigo, e as batatinhas germinarão pelos campos. "Vocês fazem bem suas orações, meus filhos?" Ambos respondemos: 
- Ah, não, Senhora, não muito.
"Ah, meus filhos, é preciso fazê-las, à noite e de manhã.  Quando não puderem fazer melhor, rezem ao menos um Pater e uma Ave Maria; e quanto tiverem mais tempo e puderem fazer melhor, rezem mais. 
"Apenas algumas mulheres mais idosas vão à Missa; os outros trabalham aos domingos durante todo o verão; e no inverno, quando não sabem o que fazer, só vão à Missa para zombar da religião.  Na quaresma, vão ao açougue como cães(12).
"Nunca viram o trigo estragado, meus filhos?" Nós dois respondemos: - Ah, não, Senhora.
A Santa Virgem dirigiu-se a Maximin: "Mas você, meu filho, você o viu uma vez perto de Coin(13), com seu pai.  O dono do trigo disse a seu pai: Venha ver como meu trigo se esfarela.  E vocês foram.  Seu pai pegou duas ou três espigas na mão, apertou-as e elas se desfizeram em poeira.  Depois, ao retornarem, quando estavam a pouco mais de uma hora de Corps, seu pai lhe deu um pedaço de pão, dizendo: "Toma, meu filho, come este ano, pois não sei quem comerá dele no próximo ano se o trigo se esfarelar como aquele."
Maximin respondeu: - É verdade, Senhora, não me lembrava disso.
A Santíssima Virgem terminou seu Discurso em francês:  "Pois bem, meus filhos, vocês transmitirão isto a todo o meu povo."(14)
A Belíssima Senhora atravessou o regato; e, a dois passos do regato, sem voltar- se para nós, que a seguíamos (porque nos atraía por seu brilho e mais ainda por sua bondade, que me deslumbrava, que parecia me derreter o coração), disse-nos mais uma vez:
"Pois bem, meus filhos, vocês transmitirão isto a todo o meu povo."
Depois continuou a caminhar até o lugar em que eu tinha subido para ver onde estavam minhas vacas.  Seus pés apenas tocavam o topo da grama, sem amassá-la.  Ao chegar sobre a pequena elevação, a Bela Senhora parou, e logo me pus à sua frente, para poder olhá-la bem e para saber que caminho ela queria que tomássemos; pois por mim mesma, já o tinha esquecido, e também a minhas vacas e aos senhores para quem estava trabalhando; estava unida para sempre e sem condições à Minha Senhora; sim, não queria jamais, jamais deixá-la; eu a seguia de todo o coração, e na disposição de servi-la enquanto vivesse.
Com Minha Senhora, acho  que  tinha  esquecido  o  paraíso;  não  tinha  outro pensamento senão o de bem servi-la em tudo; e pensava que poderia fazer tudo aquilo que me ordenasse, pois me parecia que ela tinha muito poder. Olhava-me com uma terna bondade que me atraía para si; quisera, com os olhos fechados, lançar-me em seus braços.  Não me deu tempo de fazê-lo.  Elevou-se insensivelmente da terra a uma altura de aproximadamente um metro e pouco; e, permanecendo assim suspensa no ar por um curto instante, Minha bela Senhora olhou para o Céu, depois para a terra à sua direita e à sua esquerda, depois me olhou com olhos tão doces, tão amáveis e tão bons, que senti que me atraía para seu interior, e que meu coração abria-se para o seu. 
E enquanto meu coração fundia-se em uma doce dilatação, a bela figura de Minha Boa  Senhora  desaparecia  pouco  a  pouco;  parecia-me  que  a  luz  em  movimento multiplicava-se ou antes condensava-se ao redor da Santíssima Virgem, para impedir-me de vê-la por mais tempo. Assim, a luz  tomava o lugar das partes do corpo que desapareciam aos meus olhos; ou também era como se o corpo de Minha Senhora se transformavas-se  em  luz,  diluindo-se. Assim  a  luz  em  forma  de  globo  elevou-se docemente em direção da minha direita.(15)
Não posso dizer se o volume da luz diminuía à medida em que ela subia ou se era seu distanciamento que fazia com que eu visse diminuir a luz à medida que ela subia; o que sei é que permaneci com a cabeça levantada e os olhos fixos sobre a luz, mesmo depois que essa luz, que continuava sempre se distanciando e diminuindo de volume, acabou desaparecendo.
Quando tirei os olhos do firmamento, olhei ao redor de mim, e vi Maximin me olhando, e lhe disse:
"Mémin, deve ser o bom Deus de meu pai,(16) ou a Santa Virgem, ou alguma grande santa".  E Maximin, lançando a mão ao ar, disse: "Ah, se eu soubesse!"
Na tarde de 19 de setembro, retiramo-nos um pouco mais cedo que de costume. Chegando na casa de meus senhores, ocupei-me em amarrar minhas vacas e em colocar tudo em ordem na estrebaria. Ainda não tinha terminado quando minha senhora veio até mim chorando, e me disse: "Por que, minha filha, não veio me dizer o que aconteceu na montanha?" (Maximin, não tendo encontrado seus senhores, que ainda não tinham voltado de seus trabalhos, tinha vindo até a casa dos meus, e contara tudo o que tinha visto e ouvido.)  Respondi:
"Ia contar-lhe, mas queria antes terminar meu serviço."
Um pouco depois entrei na casa, e minha senhora me disse: "Conte o que você viu; o pastor de Bruite (que era o sobrenome de Pierre Selme, senhor de Maximin) contou-me tudo."
Comecei a narrativa e, mais ou menos pela sua metade, meus senhores chegaram de seus campos; minha senhora, que chorava, emocionada pelo pranto e pelas ameaças de nossa terna Mãe, disse: "Ah, vocês irão colher o trigo amanhã; fiquem aqui e venham ouvir o que aconteceu hoje a essa criança e ao pastor de Selme." E voltando-se para mim, disse: "Recomece a contar tudo o que me disse."  Recomecei; logo que terminei, diz meu senhor: "É a Santa Virgem, ou estão uma grande santa, que veio da parte do Bom Deus; mas é como se o próprio Bom Deus tivesse vindo; é preciso fazer tudo o que essa Santa disse. Como você vai fazer para transmitir isso a todo o seu povo?" Em seguida  acrescentou, olhando para sua mãe, para sua mulher e para seu irmão: "É preciso pensar."  Depois cada um se retirou para seus afazeres. Era depois do jantar.  Maximin e seus senhores vieram à casa dos meus para contar o que Maximin tinha lhes dito, e para saber o que devia ser feito: "Pois, disseram, parece-nos que é a Santa Virgem, que foi enviada pelo Bom Deus; o que Ela disse indica isso. E Ela lhes disse para transmitir suas  palavras a todo o seu povo; talvez seja necessário que essas crianças percorram o mundo inteiro  para  fazer conhecer que é preciso que todo mundo observe os mandamentos do Bom Deus, do  contrário cairão grandes males sobre nós." Depois de um momento de silêncio, meu senhor disse, dirigindo-se  a  Maximin  e  a  mim:  "Vocês  sabem  o  que  devem  fazer,  meus  filhos? Amanhã, levantem-se bem cedo, vão os dois até o Senhor Pároco e contem-lhe tudo o que viram e ouviram; digam exatamente como tudo se passou; ele dirá o que devem fazer." 
Dia 20 de setembro, um  dia  após  a  aparição,  parti  cedinho  com  Maximin. Chegando à paróquia, bati à porta.  A criada do Senhor Pároco veio abrir e perguntou o que queríamos.  Disse-lhe (em francês, eu que jamais tinha falado francês): "Queremos falar com o Senhor Pároco." -  "E o que é  que lhe querem dizer?", perguntou-nos. "Queremos dizer-lhe, Senhorita, que ontem fomos apascentar nossas vacas na montanha de Baisses, e depois de ter almoçado, etc., etc." Contamos-lhe uma boa  parte do discurso da Santa Virgem.  Então o sino da igreja soou; era o último toque para a Missa.
O senhor clérigo Perrin, pároco de La Salette, que nos tinha escutado, abriu a porta com estrondo: ele chorava; batia no próprio peito; disse-nos: "Meus filhos, estamos perdidos, o Bom Deus vai nos punir.  Ah, meu Deus, foi a Santa Virgem que apareceu a vocês!"  E saiu para rezar a Santa Missa.  Eu, Maximin e a criada nos entreolhamos; depois Maximin me disse: "Vou para a casa de meu pai, em Corps."  E nos separamos. 
Não tendo recebido ordem de meus Senhores para me retirar logo depois de ter falado com o Senhor Pároco, pensei que não faria mal em assistir à Missa. Fui então para a Igreja.  A Missa começou e, depois do primeiro Evangelho, o Senhor Pároco virou- se para o povo e começou a contar a seu paroquianos a aparição que acontecera, na véspera,  sobre  uma  de  suas  montanhas, e  exortou-lhes a  não  mais  trabalhar  nos domingos; sua voz estava entrecortada por  soluços, e todo o povo estava comovido. Depois da Santa Missa, retirei-me para a casa de meus senhores.  O Senhor Peytard, que ainda hoje é maire(e) de La Salette, veio interrogar-me sobre a  aparição; e, depois de certificar-se da veracidade do que eu lhe tinha dito, retirou-se convencido. Continuei a prestar serviço para meus Senhores até a Festa de Todos os Santos. Em seguida fui posta como interna entre as religiosas da Providência em minha terra, Corps.
A Santíssima Virgem era muito grande e bem proporcionada; parecia tão leve que um sopro  poderia  movê-la;  entretanto  estava  imóvel  e  firme. Sua  fisionomia  era majestosa, imponente,  mas  não imponente como os Senhores daqui de baixo. Ela impunha um temor respeitoso. Ao  mesmo tempo que Sua Majestade impunha esse respeito mesclado de amor, atraía-nos para si. Seu olhar era doce e penetrante; seus olhos pareciam falar com os meus, mas a conversação vinha de um  profundo e vivo sentimento de amor em relação a essa beleza encantadora que me liquefazia.  A doçura de seu olhar, seu ar de bondade incompreensível fazia compreender e sentir que ela atraía para si e queria doar-se; era uma expressão de amor que não pode ser exprimida com a língua da carne nem com as letras do alfabeto.
As vestes da Santíssima Virgem eram de um branco prateado e muito brilhante; não havia  nelas  nada de material: era compostas de luz e de glória, cambiantes e cintilantes.  Sobre a terra não há expressão nem comparação que se possa usar.
A Santa Virgem era toda bela e toda feita de amor; olhando-a eu tinha vontade de fundir-me com ela.  Em seus adornos, como em sua pessoa, tudo respirava a majestade, a esplendor, à magnificência de uma Rainha incomparável. Era bela, branca, imaculada, cristalina, resplandecente, celeste, suave, nova como uma Virgem; parecia que a palavra Amor dançava em seus lábios prateados e puríssimos. Ela me parecia como uma boa Mãe, plena de bondade, de amabilidade, de amor para conosco, de  compaixão, de misericórdia.
A coroa da rosas que tinha na cabeça era tão bela, tão brilhante, que não se pode fazer uma idéia; as rosas de diversas cores não eram da terra; era uma reunião de flores que  envolviam  a  cabeça  da  Santíssima  Virgem  em  forma  de  coroa;  mas  as  rosas modificavam-se ou mudavam de lugar; depois, do coração de cada rosa saía uma luz tão bela  que  arrebatava  e  dava  às  rosas  uma  beleza  magnífica. Da coroa de rosas elevam se como que ramos de ouro e uma quantidade de outras pequenas flores misturada com brilhantes. O todo formava um belíssimo diadema, que brilhava muito mais que nosso sol da terra. A Santa Virgem tinha uma formosíssima Cruz pendurada ao pescoço. Essa Cruz parecia ser dourada; digo dourada para não dizer que era uma chapa de ouro; pois já vi algumas vezes  objetos dourados com diversas nuances de ouro, o que fazia a meus olhos um efeito muito mais belo do que uma simples chapa de ouro. Sobre essa bela Cruz toda brilhante de luz, havia um Cristo, havia Nosso Senhor, os braços estendidos na Cruz. Quase nas duas extremidades da Cruz, de um lado um martelo, do outro uma torquês.  O Cristo era da cor natural da pele, mas brilhava com grande esplendor; e a luz que saía de todo seu corpo assemelhava-se a  dardos brilhantes, que me fendiam o coração do desejo de fundir-me com ele.  Às vezes o Cristo parecia estar morto: tinha a cabeça pendida, e o corpo estava como prostrado; parecia que, se não estivesse preso pelos cravos que o retinham na Cruz, cairia. 
Eu estava tomada por uma grande compaixão, e queria poder bradar ao mundo inteiro seu amor desconhecido, e infiltrar nas almas dos mortais o mais profundo amor e o mais vivo reconhecimento para com um Deus que não tinha nenhuma necessidade de nós para  ser  o que é, o que era  e o  que  sempre será; e entretanto  - oh amor incompreensível para o homem! - Ele se fez homem, e quis morrer, sim, morrer, para melhor escrever em nossas almas e em nossa memória o Louco amor que tem por nós! Oh!  Como sou infeliz por ser tão pobre em expressão para falar do amor, sim, do amor de nosso bom Salvador para conosco! Mas, por outro lado, como somos felizes em poder sentir tão bem o que não podemos exprimir! 
Outras vezes o Cristo parecia vivo; tinha a cabeça levantada, os olhos abertos, e parecia estar na Cruz por sua própria vontade. Algumas vezes também parecia falar: parecia  querer mostrar que estava na Cruz por nós, por seu amor por nós, para nos atrair a seu amor, pois  Ele tem um amor sempre novo por nós, pois seu amor do princípio e do ano 33 é sempre o mesmo de hoje e será sempre o mesmo. 
A Santa Virgem chorava durante quase todo o tempo em que Ele me falou.  Suas lágrimas caíam lentamente, uma a uma, até seus joelhos; depois, como centelhas de luz, desapareciam.  Eram brilhantes e cheias de amor.  Eu queria poder consolá-la, e que Ela não mais chorasse. Parecia-me, porém,  que Ela tinha necessidade de mostrar suas lágrimas para melhor mostrar seu amor esquecido pelos  homens. Eu queria poder lançar-me em seus braços e dizer-lhe: "Minha boa Mãe, não choreis!  Eu vou amar-vos por todos os homens da terra." Mas me parecia que Ela dizia: "Há tantos que não me conhecem!" 
Eu estava entre a morte e a vida, vendo por um lado tanto amor, tanto desejo de ser amada, e de outro lado tanta frieza, tanta indiferença... Oh, minha Mãe, Mãe tão, tão bela e tão amável, meu amor, coração de meu coração!...  
As lágrimas de nossa terna Mãe, longe de diminuir seu ar de majestade, de Rainha e de Senhora,  pareciam, ao contrário, embelezá-la, torná-la mais amável, mais bela, mais poderosa, mais cheia de amor, mais maternal, mais encantadora; e eu queria poder beber suas lágrimas, que faziam saltar meu  coração de compaixão e de amor. Ver chorar uma Mãe, e uma tal Mãe, sem procurar por todos os meios imagináveis consolá- la, a fim de mudar suas dores em  alegria, é isto possível? Oh, Mãe mais que boa! Fostes  formada  com  todas  as  prerrogativas  de  que  Deus  é  capaz;  Vós  como  que esgotastes a potência de Deus; sois boa, e tão boa quanto a bondade do próprio Deus; Deus aumentou sua glória formando-Vos como sua obra-prima terrestre e celeste. 
A Santíssima Virgem tinha um avental amarelo.  Que digo eu - amarelo?  Ela tinha um avental mais brilhante que vários sóis juntos. Não era de um tecido material, era feito  de  glória,  e essa  glória  era  cintilante  e  de  uma beleza  magnífica.  Tudo  na Santíssima Virgem tocava-me fortemente, e como que me transportava a adorar e a amar meu Jesus em todos os momentos de sua vida mortal. 
A Santíssima Virgem tinha duas correntes, uma um pouco mais larga que a outra. À mais estreita estava pendurada a Cruz que mencionei acima.  Essas correntes (pois é preciso dar-lhes algum nome) eram como raios de glória de um grande brilho cambiante e cintilante.
Os sapatos (pois é preciso dar-lhes algum nome)(17) eram brancos, mas de um branco prateado, brilhante; havia rosas em torno deles.  Essas rosas eram de uma beleza deslumbrante,  e  do  coração  de  cada  rosa  saía  uma  chama  de  luz  belíssima  e agradabilíssima de ver.  Sobre os sapatos, uma fivela de ouro, não de ouro da terra, mas de um ouro do paraíso. 
A face da Santíssima Virgem era por si mesma um paraíso completo.  Tinha nela tudo o que pode saciar, pois ao contemplá-la a terra era esquecida.
A Santa Virgem estava envolvida por duas luzes.  A primeira luz, mais próxima da Santíssima Virgem, chegava até nós; brilhava com um brilho muito belo e cintilante.  A segunda luz estendia-se um pouco mais em torno da Bela Senhora e nós encontrávamo- nos dentro dela; era imóvel (quer dizer,  não  cintilava), mas bem mais brilhante que nosso pobre sol da terra.  Todas essas luzes não faziam mal aos olhos e não cansavam em nada a vista. 
Além de todas essas luzes, de todo esse esplendor, saíam ainda grupos ou feixes de luzes, ou de raios de luz, do Corpo da Santa Virgem, de suas vestes e de tudo.
A voz da Bela Senhora era doce; encantava, arrebatava, fazia bem ao coração; saciava, removia todos os obstáculos, acalmava, aliviava. Parecia-me que sempre havia querido beber essa bela voz, e meu coração parecia dançar ou querer ir ao seu encontro para liquefazer-se nela.
Os olhos da Santa Virgem, nossa terna Mãe, não podem ser descritos por uma língua humana.  Para falar deles, seria preciso ser um serafim; mais, seria preciso usar a linguagem do próprio Deus, desse Deus que formou a Virgem Imaculada, obra-prima de sua onipotência.
Os olhos da Augusta Maria pareciam milhares e milhares de vezes mais belos que os brilhantes, os diamantes e as pedras preciosas mais raras; brilhavam como dois sóis; eram doces como a própria doçura, claros como um espelho. 
Em seus olhos via-se o paraíso; eles atraíam para Ela; parecia que Ela queria doar-se e atrair.  Quanto mais a olhava, mais a queria ver; quanto mais a via, mais a amava, e amava-a com todas as minhas forças.
Os olhos da Bela Imaculada eram como a porta de Deus, através da qual podia-se ver tudo o que pode embriagar a alma.  Quando meus olhos se encontravam(18) com os da Mãe de Deus, experimentava dentro de mim mesma uma feliz revolução de amor e de protestação de amá-la e de derreter de amor.
Olhando-se, nossos olhos conversavam à Sua moda, e eu a amava tanto que tinha vontade de mergulhar dentro de seus olhos que enterneciam minha alma, e pareciam atraí-la e fazê-la fundir-se com a sua.  Seus olhos punham um doce estremecimento em todo meu ser; e eu temia fazer o menor movimento que pudesse lhe ser desagradável, por pouco que fosse.
Essa simples visão dos olhos da mais pura das Virgens seria suficiente para ser o Céu de um bem-aventurado; seria suficiente para fazer uma alma entrar na plenitude das vontades do Altíssimo por entre todos os acontecimentos que ocorrem ao longo da vida mortal; seria suficiente para fazer tal  alma realizar contínuos atos de louvor, de agradecimento, de reparação e de expiação. Essa simples visão concentra a alma em Deus e a torna como uma morta-viva, que só vê as coisas da terra, mesmo as coisas que parecem as mais sérias, como brincadeiras de criança; ela passaria a só querer ouvir falar das coisas de Deus e do que se refere à sua Glória.
O pecado é o único mal que ela vê sobre a terra.  Ela morreria de dor se Deus não a sustentasse.  Amém.(19)

Castellamare, 21 de novembro de 1878. MARIA DA CRUZ, Vítima de Jesus, nascida MÉLANIE CALVAT, pastora da Salette. Nihil obstat: imprimatur.

Datum Lycii ex Curia Epii, die 15 Nov. 1879.

CARMELUS Archus COSMA, Vicarius  Generalis.

La Salette (Notas do Autor)



Notas do auto sobre o Post: A APARIÇÃO DA SANTÍSSIMA VIRGEM NA MONTANHA DE LA SALETTE A 19 DE SETEMBRO DE 1846
1     lanie tinha então catorze anos e dez meses mas, não sendo nem alta nem forte, parecia não ter mais do que dez. Era por temperamento muito tímida, e seus longos anos de servos entre estranhos, bem como o pouco carinho que recebia de sua mãe, que jamais a abraçara, não tinham servido para reformar esse defeito de caráter.  Mas a piedosa menina, que o Céu já tinha visitado bem antes de 1846, buscava a solidão sobretudo para estar mais unida a Deus. Seu "Amável Irmão" dissera-lhe: "Minha Irmã, fuja do ruído do mundo, ame o retiro e o recolhimento: mantenha seu coração na Cruz e a Cruz em seu coração; que Jesus Cristo seja sua única ocupação.  Ame o silêncio e ouvirá a voz do Deus do Céu que lhe falará ao coração; não estabeleça ligões com ninguém e Deus será todo seu."

2    Maximin tinha apenas onze anos e parecia ter no nimo ts anos menos.  Jamais tinha trabalhado e havia pedido a seu pai, carpinteiro de carroças em Corps, para substituir, durante oito dias, a um pastor enfermo.  Inicialmente o pai não permitira, dizendo que "min", distraído como era, deixaria as vacas caírem nos precipícios; havia cedido sob a promessa de que haveria sempre alguém a vigiá-lo.   "min" era tão ingênuo quanto esperto, indiscreto e traquinas: "Cuida de mim, eu me comporto" - que simplicidade!  Mas era a turbulência e o movimento perpétuo; e embora muito inteligente, era tão distraído a ponto de seu pai, em ts anos, mal ter conseguido ensinar-lhe o "Pai Nosso" e a "Ave Maria"; seu pai o chamava de "o inocente". lanie não falava nem entendia o francês.  Maximin também não o falava, mas compreendia algumas palavras.
3      Em vez de ralhar com o estouvado que, com um ágil pontapé, tinha feito rolar montanha abaixo o pedaço de pão, ela não somente reparte o segundo com ele como preocupa-se com a necessidade que ele deveria ter de comer, e não pensa em si mesma.  As privações, as penitências que essa fgil menina impunha-se anos, e que manteve por toda a vida, foram mais que heróicas: foram miraculosas.

 O dia 19 de setembro, nesse ano, caía na véspera da festa de Nossa Senhora das Sete Dores, da qual a Igreja festejava as primeiras Vésperas na hora mesma da Aparão.  O discurso da Santa Virgem, suas vestes, suas lágrimas, o caminho que percorreu, que tem exatamente as sinuosidades do Calvário, tudo estava em relação com essa festa,  a fim de que não duvidássemos de que nossas revoltas contra Deus e sua Igreja são as sete espadas que, aos pés da Cruz, transpassaram seu coração.
Nota da Tradução: Nessa época, Nossa Senhora das Dores era celebrada no terceiro domingo de setembro.  Na tarde deste sábado de outono começava o ofício da festa.  Na hora em que Nossa Senhora apareceu na Salette os monges,
os padres e os religiosos estavam justamente rezando esta parte da oração: Vede em que abandono de grimas está
banhado o rosto da Virgem!  Vós todos que passais, olhai e dizei-me se existe alguma dor igual à minha!  Era assim que o profeta, já no Antigo Testamento, lamentava sua dor, por causa das infidelidades do Povo de Deus (Lam 1,12). (in "Salette, fato e mensagem", Revista dos Missionários Saletinos, ed. Berthier, Passo Fundo.)

5  O estouvado, que passava todo seu tempo em Corps com brincadeiras de crianças, entedia-se como na véspera e pede ainda para brincar.  A Pastora, que jamais havia brincado, ensina-o então a fazer um "Paraíso"!...
Maria reuniu essas duas caras crianças, de caráter tão oposto, e a mão de sua providência soube levar "o inocente" para a montanha de maneira tão natural, que o pastor substituído, o qual, no dia seguinte, estará curado e retomará
seu serviço, dirá com uma encantadora ingenuidade: "Tive muito azar! - Como assim? - Fiquei doente: senão eu é que teria visto a Virgem!  min me substituiu...  E então, foi justamente durante esses oito dias que ele viu a Santa
Virgem. Ah, meu senhor, sem essa doença eu é que teria visto a Santa Virgem!"
Esse jovem era doce, tranqüilo e piedoso.  Mas a e de Deus precisava de um estouvado, como Maximin, que não viu nada na Aparão, e que não percebeu nada.
6 Uma vez que ainda não tratara da Bela Senhora, a preocupação de lanie em assinalar essa particularidade denota sua admiração pela bondade da Santa Virgem, que testemunha assim que gostava de sua pequena recreação.

7  O primeiro sentimento de Maximin, que não percebeu que era uma aparão e pensou que lanie tinha medo, foi diferente.  "Vai, disse ele, pega teu cajado", brandindo o seu como uma ameaça: "se ela nos tocar, eu lhe darei um bom golpe." - A luz já se tinha aberto: lanie reconheceu logo a Santa Virgem e foi tomada de temor, quase de pavor ao ver chorar a Santa Virgem, que ela jamais tinha visto senão em sua bem-aventurança.

8  A Santa Virgem fala aqui em nome de Deus, e o Cristo vivo que trazia ao pescoço pronuncia as palavras ao mesmo tempo.

 Sem a observação do Domingo, não pode haver vida religiosa Já se vão quinze séculos desde  que Tertuliano pronunciava estas palavras aos fiéis de seu tempo:  "Sem o Domingo não pode haver cristãos.  Non est christianus sine dominica."  Observemos também que, entre as perguntas feitas aos mártires por seus perseguidores, distinguia-se sobretudo esta: "Você observa o domingo?", e, uma vez que a resposta afirmativa era o bastante, reconhecia-se nela por assim dizer todo o cristianismo.  Mas a Santa Virgem censura seu povo por um segundo crime muito maior ainda que a violação do Domingo, a Blasfêmia.  Quando toda boca, não somente não mais reza, mas blasfema; quando um povo inteiro,  como a França, não somente se esquece de honrar a Deus, mas o insulta e nega, que castigos não
merecerá?  "São as duas coisas que tornam tão pesado o braço de meu Filho"

a  Pomme de terre em francês (N.d.T.)

b  Pomme em francês (N.d.T.)

 Até aqui a Bela Senhora exprimira-se em francês; continua agora seu discurso no dialeto utilizado pelos pastores. (N.d.T.)

10   Essas ameaças eram condicionais: "Se meu povo não quer submeter-se."  O movimento de conversão que se deu depois da Aparão não foi suficiente: a maioria delas realizou-se ao pé da letra.
A Santa Virgem havia dito que as batatinhas continuariam a apodrecer e que no Natal acabariam Ora, desde o
começo do inverno, os pobres morriam de fome na montanha: não tinham nem mesmo uma batatinha para comer. Aconteceu o mesmo em toda a França e no estrangeiro, mas sobretudo na Irlanda.  Todos os jornais de Londres do dia 21 de janeiro de 1847 diziam: "O prejuízo resultante, apenas para a Irlanda, da perda da colheita das batatinhas pode ser avaliado em 12 miles de libras esterlinas, o equivalente a 300 miles de francos."  (Gazeta do Meio-Dia,
28 de janeiro de 1847.)  Essa escassez tendo continuado por vários anos, fez com que a população da ilha diminuísse em 1866-1867, de oito para cinco miles.  Esses ts milhões de irlandeses morreram de fome ou emigraram...
Ela tinha dito que o trigo seria comido pelos insetos e viraria poeira.  Ora, a praga do "pictã" surge em 1851, e causa na Europa perdas enormes.
Eis o que um correspondente do Universo escrevia sobre essa doença do trigo, mero de julho de 1856:
"Abri os alvéolos ou palhas ressecados.     Alguns não continham nenhum go, sem dúvida aqueles  que foram atacados primeiro e quando os embriões mal tinham aparecido.  Outros continham um go enfraquecido e ressecado
que nada havia nutrido; eram os que foram atacados mais tarde.  Em ambos encontramos, sob a forma de uma poeira
amarela, pequenos vermes que, sem dúvida, produziram todos esses estragos.  Qualquer um pode, hoje, constatar o mesmo femeno: basta ir ao primeiro campo de trigo, pegar qualquer espiga, abrir as corolas marcadas na raiz por uma mancha negra, e verá pulular os pequenos insetos..."
Ela tinha dito que viria uma grande fome e que os homens fariam penitência através da fome.  Ora, em 1854-1855, o trigo era vendido na França a 55 e 60 francos, cada cem quilogramas.  De acordo com as estatísticas publicadas pelo
Constitucional e pelo Universo em 1856, a carestia dos alimentos teria ocasionado na França, nos anos de 1854-1855,
a morte de cento e cinquenta e duas mil pessoas; e de mais de um milhão por toda a Europa, segundo outros jornais. E o Universo de 12 de dezembro de 1856 acrescentava: "Sob este eufemismo: Óbitos resultantes da carestia, pode-se ler: Mortes de miséria e de fome...  Ignora-se a cifra de 1856, mas a causa não desapareceu..."
Na Espanha o governo compra o trigo por 60 miles de reais, a fim de evitar a peria. - Na Polônia, os alimentos estavam tão caros em 1856 que o imperador da Rússia aumenta em um terço o salário dos funcionários.
Ela tinha dito que antes da fome, as crianças pequenas sofreriam um tremor e morreriam nos braços das pessoas que as seguravam.  Ora, em 1847, a realização da ameaça começa por uma grande  mortalidade das crianças
pequenas no terririo de Corps.  Em 1854, na França, setenta mil crianças com menos de sete anos morreram com a suette.  Um frio glacial as tomava, seguido de um tremor que levava à morte depois de duas horas de sofrimentos.
Ela tinha dito que as nozes estragariam.  Ora, um relario datado de 1852 ao ministro do interior constata que a doença das nogueiras tinha acabado com a colheita, no ano anterior, em Lyonnais, em Beaujolais e em Isère e que
isto era uma calamidade para essas regiões, onde a colheita de nozes era uma das principais fontes de renda.
Ela tinha dito que as raízes apodreceriam.       Ora, o flagelo ainda  continua.         Já fazem 60 anos que as raízes apodrecem...
Não basta a realização das ameaças proféticas blicas para que se diga: se a Salette não é um artigo de fé, é um
artigo de boa fé; se a Salette não é um dogma, é uma graça imensa da qual não se aproveitou o bastante? Comentando e meditando o Segredo, linha por linha, veremos que as ameaças proféticas, mais numerosas e bem
mais graves que as do discurso público, realizaram-se plenamente a o dia de hoje.  É a luz divina por excelência, pois a profecia é possível a Deus.   É evidente que está acima do poder das criaturas,  não apenas dirigir os
acontecimentos futuros, mas ainda prevê-los com certeza, quando suas causas ainda não existem.
A grande Aparão da Salette foi iluminada por todas as luzes.  Ts anos e alguns meses depois, o senhor abade
Michel Perrin, que servia à peregrinação, atestava mais de duzentos e cinquenta curas obtidas pela invocação de Nossa Senhora da Salette.  A fonte, que "fluía" quando a neve derretia-se ou depois de grandes chuvas, e que, depois, resiste a todas as secas, é um milagre permanente.
Luz divina, os interrogarios a que submeteram as crianças.   Não era milagroso ver-se duas  crianças que, na véspera, não falavam o francês, recitar um grande discurso sem compreendê-lo, e explicar-se facilmente nessa língua?
"Os interrogarios mais sutis não os amedrontavam, as frases mais capciosas não os desconcertavam; escapavam de
todas as armadilhas através de respostas claras e peremptórias.        Confrontadas  ou separadas, suas disposições harmonizavam-se,  completavam-se,  corroboravam-se,  e  isto  a sobre  detalhes  insignificantes.                                                   Os  teólogos confessaram-se vencidos, os jurisconsultos e os sábios, no início de uma insolência extrema, logo temeram não ser o bastante perspicazes.  Depois de um desses interrogarios, alguém disse alanie:
-  Minha filha, não está cansada de repetir tanto as mesmas coisas?
-  Não, Senhor.
-  Isto entretanto deve aborrecê-la, sobretudo quando lhe são feitas perguntas embaraçosas...
-  Senhor, jamais me fizeram perguntas embaraçosas...
Silêncio e espanto!  Toda a audiência entreolha-se, e cada um está muito embaraçado por ter se esforçado em vão.
O abade Dupanloup, depois Bispo de Orléans, reconheceu ter sido vencido pelas duas crianças.  "Deve-se observar, escreveu a 11 de junho de 1848, que nunca um acusado foi, na justa, tão inquirido sobre seus crimes como esses
dois pequenos pastores o foram durante dois anos sobre a aparão que relatam Às dificuldades  muitas vezes
preparadas com antecipação, e com freência longa e insidiosamente meditadas, sempre  colocaram respostas prontas, breves, claras, precisas, peremptórias.  Percebe-se que seriam radicalmente incapazes de tanta presença de espírito se não falassem a verdade.  Eles foram levados, como se faria com malfeitores, ao próprio lugar, ou de sua revelação ou de sua impostura; nem as personagens mais graves nem as mais distintas desconcertaram-nos, nem as ameaças  e  as  injúrias  amedrontaram-nos,  nem  as  carícias  e  a  doçura  dobraram-nos,  nem  os  mais  longos interrogarios fatigaram-nos, nem a freente repetão de todas essas provas fez com que caíssem em contradição, seja cada um consigo mesmo, seja um com o outro."
Essa assistência sobrenatural durou por toda a sua vida.
Um sábio professor de teologia e um amigo, pároco em uma grande cidade, vieram a La Salette, com uma zia de objeções preparadas e estudadas com antecipação, para colocá-las a Maximin, quando este deixava sua choupana para vir, a pedido dos peregrinos (que o preferiam aos Missionários), fazer a narrativa do milagre.  Quando Maximin acabou sua exposão, o professor propos a primeira objeção.  Maximin limitou-se a dizer: "Diga a segunda"; o mesmo aconteceu depois da 2ª, da 3ª, da e da objeção; Maximin respondeu então em algumas palavras; resolveu as cinco objeções, e sua resposta incluiu sete outras objeções.  Vendo isto, o professor e o pároco nos disseram, pois estávamos ao seu lado: "Este rapaz permanece em sua missão; está assistido pela Santa Virgem tanto hoje como nos primeiros dias; é evidente para nós.  Nenhum teólogo, mesmo o mais sábio do mundo, poderia fazer melhor em tal tour de force.  Tudo isto é certamente sobre-humano.  Ele nos provou o milagre melhor do que poderiam fazer as mais fortes demonstrações."  ADÉE NICOLAS.
Todos esses sinais divinos não são por assim dizer nada em comparação com as maravilhas das graças operadas nas almas.  Converter os pecadores, conduzi-los a Jesus, tal é o objetivo da aparão da Salette, e tal foi seu efeito em
todos os lugares em que foi aceita.  Não é miraculoso ver a conversão, por ocasião da narrativa dos pastores, de
multies que os procuravam com prevenção e freentemente com desprezo?  Desde o primeiro ano, o terririo de Corps foi inteiramente renovado.   Não apenas as blasfêmias deixaram de ser escutadas,  não apenas as pessoas deixaram de trabalhar aos domingos, mas todos freentavam as igrejas e, desde 1847, quase todos comungavam pela Páscoa Assim, em Corps, em uma população de 1.800  habitantes, não mais do que trinta pessoas que negligenciam esse importante dever.
Mas por que estendermo-nos sobre esses sinais divinos, quando podemos alegar uma autoridade  superior: a da
Santa Igreja.  Se a Salette não é um artigo de fé, é um artigo de boa fé; se não é um dogma, é uma graça da qual não se aproveitou o bastante.

Nota da tradução:  A 9 de outubro de 1846, o Bispo de Grenoble, Dom Felisberto de Bruillard, a  quem cabia pronunciar-se sobre a aparão, tendo estabelecido uma comissão constituída  intencionalmente de partidários e de opositores da sua veracidade, publica uma carta interditando a  seus sacerdotes de falar do evento enquanto ele mesmo não tivesse editado seu julgamento, "depois de um exame que deverá ser tanto exato quanto severo."  É a essa comissão que o comentador refere-se acima.  A 19 de setembro de 1851, o Bispo de Grenoble finalmente publica seu "Mandamento  Doutrinal".   Eis a passagem principal: "Nós julgamos que a aparição da Santa Virgem a dois pastores, a 19 de setembro de 1846, sobre uma montanha da cadeia dos Alpes, situada na Paróquia de La Salette, no arciprestado de Corps, traz em si mesma todos os caracteres da verdade, e que os fiéis têm fundamento para crer nela como indubitável e certa."  A de maio de 1852 ele publica novo mandamento, anunciando a construção de um santuário sobre a montanha de La Salette, e a criação de um grupo de missionários diocesanos ao qual o nome de "Missionários de Nossa Senhora da Salette".   E acrescenta: "A Santa Virgem apareceu em La Salette para o mundo inteiro, quem pode duvidar  disso? A 19 de setembro de 1855, Dom Ginoulhiac, novo Bispo de Grenoble, assim resumia a situação: "A missão dos pastores chegou ao fim, a da Igreja começa." (conf. publicação comemorativa dos
150º aniversário da Aparão de Nossa Senhora da Salette, ed. du signe, Strasbourg, 1994.)

11  Prazo admivel!  A Santa Virgem queria que lanie retivesse seu Segredo a sua aparão em Lourdes, a 11 de fevereiro de 1858!  É espantoso que ninguém pareça ter observado isso. (Nota de Léon Bloy)

d Ev.:  Palavra assim abreviada no texto francês.  (N.d.T.)

12   A Virgem puríssima utiliza-se de uma expressão enérgica, para fazer entender que, em um único  exemplo de intemperança, quer assinalar as chagas hediondas do sensualismo.  Não podendo descobrir essas chagas aos olhos das crianças, no-las aponta suficientemente, pois não apenas na língua da Sagrada Escritura, mas em todas asnguas, a palavra "cães" designa os pecadores que não se envergonham de seus vícios.

13 Coin é o nome de um lugar situado a alguma distância de Corps.

14  A Santa Virgem mostra a importância que dá a seu ensinamento.  Ela veio, com efeito, conduzir-nos à observação "in spiritu et veritate" da Lei de Deus.  Conseguiu resumir tão bem, em seu discurso, os ensinamentos de seu Filho, que é impossível falar de uma forma útil aos cristãos, aos religiosos e eclesiásticos de nossos dias sem repetir, quer se queira ou não, o que Ela disse.  Além disso, depois de ter começado como seu Filho: "poenitemini" (Mc 1,15) - "Se meu povo não quer submeter-se", ela termina como Ele: "Docete omnes gentes" (Mt 28,19) - "Vocês transmitio isto a todo o meu povo."  Estas últimas palavras, Ela as repete.  Um soberano não repete uma ordem que acaba de dar; mas Ela quis mostrar a seus filhos que, da primeira vez, referia-se à parte de seu discurso destinada a ser divulgada imediatamente, e, da segunda vez, aos segredos.
15  Maximin: "Nós vimos apenas um globo de fogo elevar-se e penetrar no firmamento. - Em nossa ngua simples, chamamos esse globo de segundo sol.  Nossos olhos ficaram durante muito tempo pousados sobre o lugar onde o globo luminoso tinha desaparecido.  Não posso descrever aqui o êxtase em que nos encontvamos.  Falo apenas por mim: sei muito bem que todo meu ser estava aniquilado, que todo o sistema orgânico estava paralisado em minha pessoa Quando voltamos a nós mesmos,  lanie e eu nos olhamos sem poder pronunciar uma palavra, ora levantando os olhos para o  céu,  ora os pousando em nossos pés, ora interrogando com o olhar tudo o que nos cercava.  Pareamos procurar a personagem resplandecente que nunca mais revi."
16  Eis uma passagem que certamente deve ter parecido bem insignificante para um bom mero de leitores. lanie toma a Bela Senhora pelo "bom Deus de seu pai"!  Que estilo!  Que idéia singular  transcrever-nos de tal forma, em plena narrativa oficial do Grande Acontecimento, essa observação infantil, para não dizer mesquinha!  Foi para alegrar a narrativa pela plica excessivamente  terra-a-terra  de Maximin que, por hábito, tinha plicas mais originais?  Verdadeiramente essa pequena linha é muito significativa...
Para aqueles que tiveram a felicidade de conhecer pessoalmente a piedosa narradora, essa linha adina é uma das mais encantadoras do relato.  Ela a faz reviver para eles; recorda-lhes uma das delicadezas desse caráter tão
admivel em realidade quanto ávido de sombra e esquecimento.
"min, deve ser o bom Deus de meu pai."  Esta frase não lhes parece não insignificante, mas também um pouco chocante, se lembrarem dessa alusão que já tivemos a ocasião de fazer às inúmeras aparões celestes de que tinha sido favorecida a pequena infância de lanie?  Quê?   uma dezena de anos ela vivia na familiaridade quase constante com Aquela que chamava de Mãe, e, nesse dia 19 de setembro, não a reconhecia?  Ela se engana tão grosseiramente?  Ela a toma pelo "bom Deus de seu pai"?  De quem zomba aqui?  Não é mais uma afronta do que uma frase "insignificante"?...
E a nós que tivemos a alegria de conhecer lanie de perto, essa frase que ela recorda haver dito a Maximin nos enche de alegria!  Nós a vemos, naquele dia, tal como sempre a conhecemos.
Ela não zombava, é certo, de Maximin, assim como não zombava de mim, por exemplo, já no final de sua vida, deixando-me acreditar que era por desatenção, indiferença, preguiça ou originalidade que chegava com atraso,
ou mesmo nem chegava à Igreja na hora habitual, um ou dois dias por semana Eu jamais teria  conhecido esse mistério se, um dia em que ocorrera tal ausência, não tivesse entrado em sua casa de maneira imprevista, sem que ela
tivesse tempo de esconder uma prova material de seus estigmas sangrentos.  Abusei de minha pretensa autoridade. Ela teve que se explicar E, quase à força, pressionada por minhas perguntas,  confessou-me que Nosso Senhor,
crucificado, aparecia-lhe, associando-a aos sofrimentos de sua Paixão...  E tudo o que se soube dela, um dia, foi por semelhantes meios, como que surpreendendo-a...
Oh, que humildade tão bela a dessa alma formada pelo "Amável Irmão"!  Foi Ele mesmo quem ensinara a essa alma, com o "Sacramentum Regis", a difícil arte de "ocultar o segredo do Rei"!  Essas efusões de intimidades
divinas, era preciso escondê-las a todo olhar estranho... e poder-se-ia dizer que todo o trabalho de sua vida exterior consistia em ocultá-las.  Uma alma que está em relações quase ininterruptas com o mundo sobrenatural e que não
deve deixar ninguém perceber isto!   Uma alma que freenta a escola Daquele que tudo sabe, e  que  tudo deve ignorar!...  Tinha encontrado um bom meio; colocava-se, como por instinto, ao nível daqueles com quem falava.
Fui testemunha, a esse respeito, de coisas verdadeiramente espantosas,  e  talvez  ainda   chegue o dia de narrá-las...                A  19  de setembro ela era uma criança, e falava a Maximin como teria falado a uma criança.  Isto lhe
era tão natural que não percebe mesmo que praticava a mais bela das virtudes; e, simplesmente, sem vacilar, ela a pratica, ela a tudo perfuma, mesmo em público: pois quando se publica um relato como o seu, está-se em meio à
multidão!  Mas que lhe importa?  Ela não pensa nisso!  E escreve essa frase "insignificante": "Deve ser o bom Deus de meu pai"!...
À noite deste grande dia, sua senhora a encontrará na estrebaria desfeita em lágrimas.  Essas lágrimas que tinha retido perante Maximin, bem saberá contê-las ainda, ao perceber que não está sozinha.   deve chorar em
segredo por essas coisas de que parece ser a mensageira inconsciente, mas que compreende muito  bem...   Que importa aos outros se verte lágrimas ou não?  Serão mencionadas, nada mais; ninguém pensa em perguntar: Por quê?
Esquivou-se de todas as curiosidades com sua frase infantil sobre "o bom Deus de seu pai".
Não me exprimi bem, pouco, quando disse que lanie colocava-se no nível de seu meio.  Poder-se-ia ver nessas palavras algo como uma condescendência orgulhosa que a levava, não sem um certo desdém, a inclinar-se...
Não, não era ela que se colocava nesse nível.  Ela tinha que se deixar conduzir: era o "Amável Irmão" que tudo
fazia.
Entre suas mãos, a alma humilde tinha apenas que estar disponível: lanie simplesmente estava disponível. E isto era verdadeiramente tão simples que ninguém pensava em se espantar.  Nosso Senhor age assim com as almas que para Ele não passam de belas flores em seu "Jardim oculto".  A Pastora desaparece bastante nesse longo relato, no qual, entretanto, está perpetuamente em cena!...
Chegará a hora, que espero com impaciência, de erguer todos esses véus.  "Opera Dei revelare honorificum est".  Que nos baste, por enquanto, admirar, sem tentar compreender, todas essas precauções divinas.  Nosso Senhor amava tanto essa alma que a queria para Si e somente para Si.  E ela, como submetia-se, dócil e simples, a todas as exigências do Amigo celeste!  Observemos lanie dois anos depois da Aparão: os escritores apressadamente nos disseram que a a idade de 17 anos e apesar dos cuidados das Religiosas de Corps, ela não pode ser suficientemente instruída para fazer a primeira comunhão, e não pode aprender o alfabeto (a).  Encontraram aí uma fácil ocasião para um erudito comentário ao texto: "Quae stulta sunt mundi elegit Deus ut confundat sapientes."  É duro entretanto para uma jovem passar por tola a tal ponto!  Receber as lições do grande doutor da Eterna Sabedoria em pessoa, ter sido formada nessa escola, e não poder, perante o júri da primeira comunhão,  recitar a letra do catecismo!...   Não se observou  que, de  um  só  golpe, sem  que ela  mesma  se desse  conta disso, estava  tãinstruída  quanto  suas companheiras...  Sua idade de 17 anos explica tudo: é absolutamente natural com efeito que uma jovem de 17 anos, profundamente ignorante na véspera, saiba ler no dia seguinte!  Ninguém ficou surpreso; e pode-se ver enfim essa criança, com o espírito fechado durante tanto tempo, tomar lugar nas fileiras dos pequenos  comungantes de onze anos.  Toda a paróquia de Corps estava convencida de que comungava pela primeira vez...  Como o "Amável Irmão" ocultava bem seus segredos!  Não, a "Pequena Irmã" não se colocava ao nível de seu próprio meio; era Ele quem a colocava, por amor, por "prudência", bem abaixo de seu nível.

(a)  A fim de que aprendesse a ler, elas não lhe ensinaram oralmente a letra do catecismo: "Quando  souber ler, disseram-lhe, aprenderá em seu próprio livro e fará sua primeira comunhão."
e Maire: chefe do corpo municipal. (N.d.T.)
17   Maximin: "Quando devo falar da Bela Senhora que me apareceu sobre a Santa Montanha, experimento o mesmo embaraço que devia sentir São Paulo ao descer do terceiro céu.  Não, o olho do homem jamais viu, seu ouvido jamais ouviu o que me foi dado ver e ouvir.
"Como é que crianças ignorantes, chamadas a explicar coisas tão extraordinárias, poderiam encontrar uma justeza de expressão que os espíritos de elite nem sempre encontram para descrever objetos vulgares?  Que ninguém se espante
então se o que nós chamamos de touca, coroa, lenço de pescoço, correntes, rosas, avental, vestido, meias, fivela e
sapatos, mal tinham essa forma.  Em seus belos trajes, não havia nada de terrestre; somente os raios e as diferentes nuances entrecruzando-se, produziam um magnífico conjunto que nós diminuímos e materializamos.
"Uma expressão tem valor pela idéia que traduz; mas onde encontrar, em nossa ngua, expressões para falar de coisas das quais o homem não tem nenhuma idéia Era uma luz, mas luz bem  diferente  de todas as outras; ia
diretamente a meu coração sem passar por meus órgãos e entretanto com uma harmonia que os mais belos concertos não poderiam reproduzir.  Que digo?  Com um sabor que os mais doces licores não poderiam ter.
"Não sei que comparações empregar, porque as comparações tomadas ao mundo sensível têm o mesmo defeito que aponto nas palavras de nossangua; não oferecem ao espírito a idéia que quero exprimir.  Quando, vendo os fogos de
artifício, a multidão exclama: "Vejam que buquê", uma semelhança muito grande entre uma reunião de flores e um grupo de foguetes que estouram?  Não, certamente; pois bem, a distância que separa as comparações que utilizo e as
idéias que quero exprimir é ainda infinitamente maior."
18  A Santa Virgem não permitiu que o pequeno pastor visse seus olhos.  Ele não pode vê-la chorar: não sabia o que eram aquelas centelhas de luz que desapareciam nos joelhos da Bela Senhora Ela não  permitiu sequer que ele contemplasse sua face: "Não pude ver sua figura que resplandecia."

19   "Amém, que assim seja!"   Imenso sofrimento e sempre o abandono à vontade divina...   Como a  santa criança descreve-se admiravelmente nesse brado impessoal que é de uma sublime simplicidade O conhecimento que Deus lhe dava dos pecados que existem sobre a terra,  o "odor" do pecado é o único sofrimento de que se lamenta...  Para expiá-lo, ela chorará tanto que ficará cega durante sua estada em Darlington.  Recuperou a visão por um milagre, mas suas lágrimas não deixaram de rolar, e sua vida tornou-se muito fgil.

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