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quarta-feira, 12 de março de 2014

Os pecados da língua: a detração ou maledicência e a calúnia

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Sermão para o Décimo Primeiro Domingo depois de Pentecostes
28 de julho de 2013 – Padre Daniel Pinheiro
Fonte 

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“E levantando os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: Ehphpheta, que quer dizer, abre-te. E imediatamente se lhe abriram os ouvidos e se lhe soltou a prisão da língua, e falava claramente.”
Caros católicos, no Evangelho de hoje, Nosso Senhor cura com um gesto e com palavras um surdo-mudo. Com esse gesto, Nosso Senhor quis nos dar ao menos duas lições. A primeira delas foi mostrar o modo de atuação dos sacramentos. Com um gesto e uma palavra, Cristo opera um milagre. Da mesma forma, com gestos, palavras e coisas sensíveis os sacramentos são realizados. Portanto, a Igreja, ao realizar os sacramentos, ao administrar os sacramentos nos transmite simplesmente o que ela recebeu de Cristo, como São Paulo o diz na Epístola de hoje. A segunda lição do Evangelho de hoje diz respeito aos pecados da língua e dos ouvidos. Não sabemos ao certo se esse mudo era completamente mudo ou se simplesmente não consegui falar corretamente, devido a algum defeito. Quanto a nós, nós podemos falar, mas quantas vezes não falamos corretamente, quantas vezes usamos nossa língua para ofender a Deus, prejudicar o próximo e prejudicar a nós mesmos! É dessa segunda lição do Evangelho de hoje que trataremos, caros católicos.
A língua é pequeno membro do nosso corpo, mas grande é a sua importância e a sua influência sobre a nossa vida espiritual. Com a língua podemos louvar a Deus, adorá-lo, rezar, fazer Deus conhecido, podemos edificar o próximo. Com a língua, podemos favorecer as virtudes. Todavia, com a língua podemos também pecar contra praticamente todas as virtudes, o que leva o Apóstolo São Thiago a dizer: “Também a língua é um fogo, um mundo de iniqüidade. A língua está entre os nossos membros e contamina todo o corpo; e sendo inflamada pelo inferno, incendeia o curso da nossa vida.” Podemos pecar contra a virtude de religião, blasfemando, falando mal de Deus ou dos santos, por exemplo. Podemos pecar contra a humildade alardeando nossas próprias qualidades. Podemos pecar contra a castidade, com linguajar baixo ou de duplo sentido, por exemplo. Podemos pecar contra a virtude da veracidade, mentindo. Todavia, os pecados mais comuns que se cometem com a língua são os pecados contra a justiça e contra a caridade. Nós podemos pecar fazendo juízos temerários, fazendo injúrias ou, amaldiçoando, etc. Falaremos hoje dos pecados da língua que atingem a fama, a boa fama do próximo. Esses pecados da língua que atingem a fama são os pecados de difamação.
Antes de tratar do pecado de difamação propriamente dito e para compreender a sua gravidade, devemos entender o que é a fama. Por fama, se entende a estima geral, boa ou má, que se tem de uma pessoa. Se sua conduta honrada e boa é clara diante dos outros, ela adquire diante das pessoas uma boa fama, uma boa reputação. Ao contrário se é pública a sua conduta imoral ou escandalosa, ela adquire uma má fama. No sentido próprio, a fama verdadeira é a boa fama. E todo homem tem um direito natural a uma boa fama, pois uma pessoa não pode ser considerada má, enquanto ela não demonstrar por suas ações ser má. Se todo mundo tem direito a uma boa fama até que prove o contrário por seus atos e palavras, a injusta difamação, quer dizer, o ataque injusto à boa fama de uma pessoa é um pecado contra a justiça, que exige restituição ou reparação pelo mal causado. A fama é um bem de grande valor, a sagrada Escritura (Prov. 22, 1) diz que ela é mais preciosa que grandes riquezas e que ela permanece mais do que milhares de tesouros (Eccli. 41, 15).
A difamação pode ocorrer basicamente de duas maneiras: 1) pela detração ou maledicência e 2) pela calúnia.  1) A detração ou maledicência consiste em manifestar sem justa causa um pecado, um vício ou defeito verdadeiro do próximo. A pessoa tem direito não só a uma boa fama verdadeira, mas também a uma boa fama falsa, enquanto seu pecado ou defeito permanecer oculto e não for necessário revelá-lo. Se se critica defeitos ou pecados já conhecidos publicamente não existe detração ou maledicência, mas pode haver falta contra a caridade.  2) A calúnia por sua vez consiste em atribuir falsamente ao próximo um pecado, um defeito, um vício. A calúnia acrescenta à detração ou maledicência uma mentira.
A detração ou a calúnia podem ser feitas de forma direta ou indireta. De modo direto, manifestando claramente o pecado alheio, verdadeiro ou falso. Isso se faz revelando o pecado oculto, exagerando um pecado verdadeiro, atribuindo uma má intenção a uma ação boa ou simplesmente inventando um pecado que o outro teria cometido ou um defeito. De modo indireto, negando ou diminuindo as boas qualidade do próximo. Isso se faz negando o bem que o outro fez, calando maliciosamente o bem que o outro fez, diminuindo o bem feito pelo próximo ou louvando-o menos do que se deveria. As formas verbais dessa maledicência ou calúnia indiretas são várias: “Sim, tal pessoa fez isso de bom, mas…” “É melhor eu nem acabar de contar, do contrário…” Às vezes as palavras não são nem necessárias, bastando um gesto, um sorriso para que a fama do próximo caia por terra. A difamação, seja ela caluniosa ou simples detração, pode ocorrer seja com a intenção explícita de denegrir o próximo seja criticando-o por alguma outra razão (pelo hábito de falar muito, por falar sem pensar, para utilidade própria) e sem a intenção de denegri-lo, mas prevendo que sua fama será prejudicada.
A gravidade da difamação se mede tanto pela importância do defeito divulgado ou falsamente atribuído quanto pelo dano causado ao próximo com ela. Em geral, quando se revela um defeito leve ou se atribui falsamente ao outro um pecado leve, a infâmia é leve. Ao contrário, quando se revela ou se atribui falsamente um pecado ou defeito grave a outra pessoa, a infâmia é grave. Pode haver, porém exceções, em virtude da dignidade da pessoa ofendida. Assim, revelar uma pequena falta oculta do Papa, poderia ser uma infâmia grave, por exemplo. Além da gravidade do pecado divulgado ou falsamente atribuído, é preciso levar em conta também a gravidade do dano causado ao próximo. A gravidade desse dano depende da gravidade do defeito atribuído à outra pessoa, mas depende também da qualidade da pessoa criticada, do prestígio e da credibilidade do difamador, da quantidade e qualidade dos ouvintes, das consequências para a família do difamado ou para os seus bens. Alguém que inventasse, por exemplo, uma pequena mentira sobre outra pessoa prevendo que ela perderia o emprego por causa disso, cometeria uma falta grave  Se, consideradas todas as circunstâncias, o dano é leve, o pecado será venial. Se o dano é grave, o pecado será mortal, se o difamador previu o grave dano. E, claro, se a intenção é prejudicar gravemente alguém, por maledicência ou calúnia, haverá uma falta grave, ainda que, no fim das contas, a fama ou dano para o difamado seja leve. Do mesmo modo, haverá pecado grave se a pessoa age por ódio ou por algum outro motivo gravemente desordenado, ainda que o dano final não seja grave.
A difamação, como dissemos, é pecado contra a justiça, pois prejudica o direito à boa fama que o próximo tem e trata-se igualmente de um pecado contra a caridade, que nos proíbe desejar ou fazer mal ao próximo. Fica claro que se trata de uma falta de caridade porque, em geral, buscamos desculpar os defeitos dos que amamos, atribuindo-lhes ao menos a boa intenção. Assim, quando se difama é sinal de que a caridade está ausente. Além de ir contra a justiça e a caridade, a revelação sem motivo suficiente de pecados ou a invenção de pecados prejudicam o bem comum, favorecendo brigas, rixas, vinganças, etc., que perturbam a paz e tranquilidade social.
Também os mortos têm direito a uma boa fama. Não é lícito difamar os mortos, a não ser com causa justa e proporcional. Seria uma causa justa, por exemplo, revelar seus defeitos verdadeiros para impedir que seus escritos ímpios continuassem a influenciar as almas prejudicando-as. Os historiadores têm aqui uma maior liberdade para publicar pecados ou defeitos certos (e não simplesmente possíveis ou prováveis), se da publicação desses fatos haverá alguma lição proveitosa. Isso porque historia magistra vitae est (a história é mestra de vida).
Na confissão, é preciso dizer se difamou o próximo levemente ou gravemente, quantas vezes o fez, se o dano causado foi grave ou não. É preciso dizer também se foi por simples detração ou maledicência, revelando defeitos verdadeiros, ou se foi por calúnia, inventando defeitos ou pecados. É preciso também dizer o que motivou essa ação: ódio, inveja, simples, leviandade, excesso no falar, etc., porque esses motivos são pecados distintos da difamação.
Quando se trata de um pecado contra a justiça, é preciso reparar o pecado cometido pela restituição do bem prejudicado. Portanto, o verdadeiro arrependimento da difamação inclui a obrigação de restituir a fama do próximo e reparar todos os danos materiais que foram ocasionados em virtude da difamação e que tenham sido previstos pelo difamador. Se há um grave dano para a fama ou para os bens do próximo, existe uma obrigação grave de reparar, assim que possível. Se o dano foi leve, existe uma obrigação leve de reparar o dano causado. Essa reparação deve ser feita o quanto antes, a fim de evitar que a difamação se espalhe. Se se trata de uma calúnia, é preciso fazer com que a verdade seja conhecida, dizendo que cometeu um erro quanto ao que disse, etc. Se for preciso prejudicar a própria fama para restabelecer a verdade, deve-se fazê-lo. Se se trata de detração ou maledicência não se pode negar o que foi dito, pois se trata de um defeito ou pecado verdadeiro. Será preciso, então, restituir louvando as qualidades do difamado, buscando desculpas para a ação dele, buscando mostrar a boa intenção dele, apesar do ato ruim. Se a difamação foi pública ou por escrito, deve ser restituída da mesma forma. O difamador pode ver-se livre da obrigação de restituir, se a difamação não se realizou de fato, seja porque as pessoas já sabiam ou porque não acreditaram, etc. Isso não elimina o pecado, mas a obrigação de restituir. Também deixa de haver a obrigação de restituir se existe uma impossibilidade física ou moral de fazê-lo, por exemplo, se perdeu contato com as pessoas que ouviram as difamações ou se para reparar uma infâmia leve tivesse que prejudicar gravemente a própria fama. Também deixa de existir a obrigação de restituição em função do perdão dado pelo prejudicado, se ele não exigisse mais a reparação.
A difamação é algo que muitas pessoas não levam tão a sério e não combatem devidamente, embora sejam sérios na prática dos outros preceitos. Existe, porém, um erro oposto, que consiste no fato de considerar que sempre se comete um pecado ao se revelar algum defeito ou pecado dos outros. Na verdade, é lícito revelar os defeitos ou pecados ocultos dos outros, desde que haja causa proporcionalmente grave para fazer isso e desde que se evite o ódio, rancor, inveja ou qualquer outra disposição desordenada. É preciso que haja causa proporcionalmente grave e reta intenção. (É evidente que o sacerdote não pode em nenhuma hipótese revelar os pecados ouvidos em confissão, nem mesmo para salvar a própria vida.) Às vezes, pode até mesmo ser um dever revelar os defeitos ocultos de outra pessoa. Em geral, as causas que justificam isso são por motivo religioso, por motivo de justiça ou de caridade. Por motivo religioso, por exemplo, quando se revela ao Bispo os defeitos  sérios de um seminarista, a fim de evitar que seja ordenado, e que venha a escandalizar o rebanho. Também por motivo de justiça, quando se tem o dever, por ofício, de revelar e denunciar um crime. Finalmente, por motivo de caridade, para evitar um dano para a sociedade, para evitar um dano para si mesmo, para evitar um dano para uma terceira pessoa ou até mesmo para ajudar a pessoa de quem se revela o segredo. Assim, pelo bem comum, é lícito revelar publicamente e até mesmo pela imprensa os defeitos verdadeiros de um candidato ímpio a um cargo público. Pelo bem comum, é preciso denunciar os que espalham erros ou doutrinas contrárias à fé e aos bons costumes, de modo que alguém os corrija ou de modo que a influência deles seja diminuída. Quando se trata de membros da Igreja, que podem errar, a prudência deve ser redobrada e a caridade mantida sempre. Não se deve também criticar aleatoriamente, de forma escandalosa ou inútil. A pessoa que conta os defeitos de outro pode fazê-lo se isso é necessário para buscar consolo, defesa, ou conselho, por exemplo, mas manifestando somente o que realmente é necessário para atingir o fim desejado. Para o bem do próprio difamado também é possível revelar seus erros ocultos, por exemplo, quando se diz aos pais ou aos superiores os defeitos dos filhos, a fim de que sejam corrigidos e possam levar uma vida melhor. Pelo bem de uma terceira pessoa também é lícito revelar os defeitos ocultos, a fim de colocar essa terceira pessoa de sobreaviso contra as intenções perversas de quem quer prejudicá-la ou enganá-la de alguma forma. Portanto, às vezes é lícito e bom manifestar os erros, defeitos ou pecados verdadeiros dos outros, e pode até mesmo ser necessário. Todavia, é preciso que haja realmente causa proporcional para fazer isso. Nesses casos, a pessoa não tem mais direito a uma boa fama e sua boa reputação é perdida com justiça.
Eis, então, a doutrina moral com relação a esses pecados da língua. Cumpre notar, porém, que existe uma relação estreita entre esses pecados da língua e os pecados do ouvido. A língua não fala se não há ouvidos para ouvir as difamações. São Bernardino diz que entre o difamador e o que ouve o difamador é difícil dizer quem é o mais condenável. Assim, quando alguém começar a falar mal de outro injustamente, devemos procurar mudar de assunto, mostrar nosso desconforto com a situação e, se for possível, até mesmo deixar o ambiente que se está falando mal dos outros. Devemos também procurar manifestar as qualidades da pessoa que está sendo injustamente difamada. Santo Agostinho tinha escrito na sala em que costumava fazer suas refeições a seguinte frase: “Aquele que gosta de destruir pelas palavras a vida dos outros saiba que essa mesa lhe está proibida.”
Se Deus nos deu a língua, foi para que possamos falar coisas que nos levem até Ele, foi para honrá-lo, adorá-lo e para edificar o próximo e não para prejudicá-lo injustamente. Se Ele nos deu os ouvidos, foi para que aprendamos a verdade, para que aprendamos e sigamos a sua doutrina celestial. Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo que afaste de nós os pecados da língua e dos ouvidos. Como diz a Sagrada Escritura, no livro dos Provérbios (13, 3): “Aquele que guarda a sua boca guarda a sua alma. Aquele que fala de modo inconsiderado, busca a ruina.” “O homem justo será saciado de bens pelo fruto de sua boca” (13,2).

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Riscos do Pecado e das más confissões.

Este texto abaixo tem como intuito, refletir sobre algo que não se pode ser medido. Não podemos medir a Divindade de Deus, nem seu amor, nem sua misericórdia e nem a sua justiça. 
Não se pode medir o preço pago por Jesus para nos resgatar, e por isso não podemos medir as consequências de rejeitarmos tal auxilio. 
Meus caros amigos leitores do meu blog, eu não sou e nem pretendo ser fatalista. Confio plenamente na Misericórdia Divina. Mas confio igualmente na sua justiça e, portanto o que está escrito aqui abaixo, está muito bem de acordo com a doutrina cristã católica tradicional e com os ensinamentos e a vida dos santos. 
Portanto creio que vale a pena como instrumento de reflexão. A final de contas, a nossa fé e a nossa religião, não está somente para nos ensinar a viver neste mundo, e dar um rumo na moral que desejamos seguir. Está muito, além disso: Nossa fé e religião foram geradas no Coração de Deus, para salvação de nossas almas e vara uma vida de plenitude com Deus por toda Eternidade. Tudo mais é efêmero. Portanto nunca nos esqueçamos de que como coroa desta vida, receberemos uma vida eterna, para estar com Deus ou sem ele por toda eternidade. 
Quando penso nisso com um pouco mais de atenção, me gelo todo por dentro! 
Não entendo porque hoje em dia, nossos sacerdotes e diretores espirituais não fazem nem menção destas coisas. Estamos sempre preocupados com o dia a dia, com o que comer, com o que ter, com o que vestir etc. Outras vezes nos preocupamos com as questões sociais, dos pobres, e isso é bom. Mas se realmente cada pessoa se preocupasse com sua conversão pessoal e familiar a Deus, é fato de que o resultado desta conversão seria a solução das questões pessoais e sociais. Porque uma vez convertidos a Deus, verdadeiramente, não somente alguns, mas todos os Homens e Mulheres mudariam sua conduta de vida para melhor, favorecendo com amor e justiça aos seus semelhantes, de forma a acabar com os males do mundo. 
Não haveria mais pobres, porque todos compartilhariam seus bens uns com os outros, não haveria mais criminosos porque em respeito aos mandamentos de Deus, ninguém defraudaria, roubaria, mataria ou infligiria o mal ao seu semelhante. Portanto os males começam e terminam em cada um de nós, que não fazermos outra coisa a não ser alimentar nosso instinto egoísta.
Conversão é o único caminho viável para a salvação e a paz do mundo!

Marcelo 

Livro: O ÚLTIMO GRITO DE MISERICORDIA II
Ilda Alves Moreira da Silva ISBN: 978-85-910405-0-6
Sobre o Pecado - I

Pensa bem, pecador. O pecado é o pior mal do mundo. Pelo pecado tu te rebelas e revoltas contra Deus. Tratas a Deus por inimigo e escolhes Satanás por amigo. Negas a Deus o direito que Ele tem de ser respeitado e obedecido. Arrancas-lhe a coroa de Soberano do Universo e pisas nela com os pés. Levantas a mão e ousas esbofeteá-lo. Atiras contra ele setas mortais e novamente o crucificas, como dizem as Santas Letras (Bíblia Sagrada). Que maior mal, que maior injúria! Todo pecador vive em guerra contra Deus, aliciado e alistado nas bandeiras de Satanás. Pela má vida e más obras está continuamente dizendo a Deus: Aparta-te de mim – sou do Diabo. Não quero te servir, nem amar, nem sequer conhecer-te. Não te reconheço como meu criador nem como meu Deus. Meu Deus são as minhas paixões, os meus interesses e as minhas riquezas. Meu Deus é o Demônio. Possível mais profunda ingratidão, maior desatino? O ser humano, criado, conservado e favorecido por Deus, rebelar-se contra Deus, optando por desprezá-lo, ofendê-lo e até guerrear contra ele! Deus diz ao homem: Eu sou o teu Deus. Eu te criei à minha imagem e semelhança, te criei para o céu, te remi – isto é, paguei tua libertação – com o meu Sangue, para que possas conseguir a bem-aventurança eterna, com a condição de observares a minha Lei, minha Vontade. — De sua parte, diz o homem com suas obras: Não quero a tua Lei! Não quero deixar minhas inclinações, nem restituir o bem alheio, nem me reconciliar com meu irmão, nem confessar aquele pecado, nem deixar aquela amizade, nem minhas conversas... Faço questão de seguir minhas paixões. Prefiro minhas vontades. Pouco me importa a tua Lei. Tu queres, mas eu não quero. E basta... Que temeridade! Que atrevimento! Minúscula criatura querer valer mais que Deus! Queres assim zombar de Deus? Suportará Deus tanta ingratidão sem o devido castigo? Pecador atrevido: rigoroso Juízo te espera. Quanto melhor seria se, com lágrimas e verdadeiro arrependimento pedisses perdão. Pecado é insulto a Deus, perda da amizade divina, escravidão ao demônio, privação do merecimento de todas as boas obras praticadas na vida. Quando pecas gravemente, desperdiças todo o bem que praticaste na vida, todas as confissões e comunhões, todas as Santas Missas e orações, todos os jejuns, esmolas e penitências. Se morreres nesse lastimável estado, tudo fica esquecido de Deus, inutilizado, imprestável no instante do Julgamento Supremo! Tão roubado e tão pobre ficas, como se nunca tivesses rezado uma Ave-Maria sequer na vida! Quanto estrago e prejuízo faz na alma um só pecado mortal! Num momento se perde tudo quanto se havia lucrado a vida inteira, em vinte anos, cinqüenta anos ou mais. Além de todos os males citados, o pecado rouba a verdadeira paz interior, causa inquietação interior, medo e tormento de espírito. Toda pessoa que convive com pecado grave, nada absolutamente nada merece, ainda que continue fazendo todas as boas obras que tenham feito todos os santos, no passar dos séculos! O pecado obscurece e cega o entendimento do pecador, mergulhado no abismo não consegue perceber as coisas espirituais. O pecado endurece o coração e o torna tão perverso que, muitas vezes, nem os benefícios abrandam-no, nem as ameaças espantam-no, nem os bons conselhos e bons exemplos convencem-no a se emendar. Pecado não detestado traz consigo maiores pecados e arrasta a alma de mal a pior, até precipitá-la no inferno. É tal a desordem do pecado, que causa doenças, encurta a vida, empobrece famílias, separa esposos, provoca terremotos, pestes, fomes, guerras e outros males no mundo. Foi o pecado – só um pecado! – que transformou em demônios milhões de anjos, que, de estrelas no Céu, foram reduzidos a carvões no inferno. Foi o pecado – só um pecado! – que expulsou do paraíso Adão e Eva com todos os descendentes, que somos nós. Foi o pecado – quantos pecados? – que provocou o dilúvio, que tragou a população da terra, menos oito pessoas; fez chover fogo e enxofre sobre as cidades infames, onde tudo também pereceu, menos três ou quatro pessoas; assolou de pragas a nação egípcia e teria destruído toda a grande Nínive, caso não se tivessem arrependido e convertido. (Livro de Jonas) Mal tão grande é o pecado e nódoa tão repugnante provoca, que nem as lágrimas de todos os habitantes do mundo, mesmo que formassem um oceano desde a terra até o céu, seriam capazes de eliminá-lo. E tu, pecador, acaso tens chorado os pecados que tantas vezes horrorosamente manchou tua alma? Como podes continuar despreocupado, rindo, divertindo-te, entregue às delícias da vida? Desengana-te dessa ilusão em que vives agora. Arrepende-te, enquanto tens para te purificares o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que tem poder de te livrar do inferno, onde será totalmente inútil todo pranto e lamento. Deixa, pois, o pecado, monstro horrível, desacato a Deus, desprezo de Deus, morte da virtude, perda da felicidade eterna, veneno do demônio, e finalmente cadeia do inferno. Quebra, agora mesmo, essa cadeia, essa algema, se não queres ser arrastado ao inferno. Há de ser já, senão nunca será quebrada, nunca. Porque, se agora tens tanta dificuldade, mais tarde impossível será! Quanto mais demorares, mais te afastarás de Deus, mais pecarás, maiores dificuldades e embaraços surgirão, mais impedimentos se oporão à divina graça, até que Deus, esgotada a sua misericórdia, te desamparará e o abandonará. E terás o inferno eterno, sem remédio…
Infeliz, a caminho da desgraça, volta já para Deus, enquanto Ele te chama e convida para a penitência. Ele está pronto a te perdoar - não continues a fugir e abusar de sua misericórdia. Como nada podes sem a graça de Deus, recorre à Mãe da divina Graça, a Santíssima Virgem Maria, e ela te ajudará.


Sobre o Pecado - II

Considera pecador, que pecar é dar as costas para Deus e o rosto para as criaturas. É estimar as criaturas acima de Deus Criador. É desprezar tudo o que significa a vontade de Deus. Pecado é uma monstruosidade, algo descomunal, horrível, abominável, detestável. O pecado grave deturpa e afeia a alma aos olhos de Deus Santíssimo, a ponto de não existir no mundo nada mais detestável! Ao longo da história, pessoas santas sentiam repugnância perante algum pecador. SANTA CATARINA DE SENA viu o Anjo tapar o nariz, no momento em que ela passava ao lado de alguém manchado de pecados desonestos. SANTA FRANCISCA ROMANA, quando perto de alguém réu de pecado mortal, sentia mau cheiro tão forte que quase não aguentava suportar. SÃO FELIPE NÉRI também conhecia pelo mau cheiro as pessoas que andavam em pecado e dizia: “o pecado cheira tão mal que é impossível no mundo cheiro mais repugnante.” SANTA CATARINA DE SENA em certa ocasião esteve a ponto de vomitar as entranhas, devido ao mau cheiro exalado por uma mulher que chegou perto dela, aliás, muito asseada e enfeitada, mas em estado de pecado mortal. Assim como em Deus tudo é bom e belo, no pecado tudo é feio e ruim. Não existe absolutamente nada de bom no pecado. Portanto, é fácil entender que o pecado é o pior mal do mundo. Pior do que o desespero dos que iam sendo engolidos pelo dilúvio. Pior que os sofrimentos do paciente Jó. Pior que a peste que grassou no tempo de David. Pior que todas as doenças e penas e fomes e pestes e guerras. Agora que entendes isto, oh criatura, não te aborrecem os pecados? Não te animas a mudar de vida? Oh, cegueira total, ou total falta de fé! Deus é o sumo bem e a suma beleza. A maldade e a feiúra do pecado são tamanhas, que morreria de vergonha e tristeza o pecador que as visse perfeitamente... Que grave injúria, que maior ofensa, que horrível monstruosidade, especialmente tendo-se em conta as circunstâncias que o acompanham: uma vil criatura rebelada contra o seu Criador. Roubando de Deus a coroa e pondo-a sobre si. Pisando e açoitando e crucificando o Filho de Deus. E tudo isto, na presença e à vista de Deus, dentro do palácio de Deus, que é este mundo universo. Oh crime, o mais horroroso! Criatura totalmente dependente do Criador, puxar da espada contra o Rei dos reis e da terra, para atingir o próprio Filho de Deus, dentro do palácio de Deus, sob o olhar de Deus, amparado nos braços de Deus bondoso e onipotente! É semelhante ao filho ingrato que, nos braços carinhosos da mãe, se revolta contra ela e a maltrata e a mata! Com que instrumentos o pecador ofende a Deus? - Com instrumentos que recebeu diretamente de Deus: a memória, o entendimento, a vontade, os pés, as mãos, os olhos, a língua... Desses presentes e benefícios o pecador se vale para ofender ao Doador de todos os bens. Por que finalidade ele ofende a Deus? – Por um vil e mesquinho gosto, um prazer caduco e momentâneo, ilusório interesse, mera insensatez, imprudente atrevimento. De que modo o pecador ofende a Deus? – Por declarado descaso de tudo o que representa a divina vontade. Desobediência frontal a Deus, sabendo a que grandes castigos se expõem e que se encaminha a uma pena eterna no outro mundo, castigo de fogo devorador. O pecador reconhece que seu pecado causou a morte do Filho de Deus, mas não faz caso disto. Sabe que está desagradando a Deus e satisfazendo a Lúcifer e seus partidários. Conhece perfeitamente que vai perdendo todos os merecimentos de todas as boas obras praticadas na vida, perdendo o Céu, perdendo tudo... E ainda se vangloria de seus pecados! Oh! Quanto este modo de viver ofende a Deus, que nos deixou seus santos Sacramentos, inumeráveis favores e benefícios e nos entregou seu Unigênito Filho para ser cravado numa Cruz, devido aos nossos pecados! Existe pior cegueira neste mundo? Santo Agostinho pensa que um só inferno não é bastante para castigar quem peca depois da Redenção, e que seria preciso criar novo inferno. Contra quem peca o pecador? – Contra Deus que o criou, o ama, perdoa e trata com amor e carinho; um Senhor infinitamente bom, santo e amável. Uma fera não maltrata quem lhe faz bem. Um animal bruto não se insurge contra seu benfeitor... Oh pecador, não sejas tu pior que as feras nem menos agradecido que os brutos. Conhece a Deus, que te criou para servi-lo e amá-lo. Deixa o pecado, que te faz inimigo de Deus e ingrato aos seus benefícios. Considera que basta um só pecado mortal para te perderes. Que podes esperar de Deus, se continuas a pecar? Podes, isto sim, esperar pelo inferno; o inferno será a última recompensa que te há de dar Satanás. Desengana-te. Se continuas no pecado, infalivelmente acabarás sendo um condenado ao fogo eterno. Porque é diretamente culpado da morte de Jesus, Deus Pai não te suportará por mais tempo. Ele te deixará, te desamparará, porque és um ingrato e ages como fera. És até indigno de entrar nos templos sagrados. Reconhece, pois, as tuas grandes misérias e ingratidões e converte-te para Deus. Quem mais há de te valer? Quem roga por ti? – Maria Santíssima. Recorre a ela.

Pecados Confessados sem a dor

Muitos daqueles que se aproximam do Sacramento da Confissão acabam condenando-se por pecados mal confessados, por pecados desculpados, por pecados declarados sem a verdadeira dor, arrependimento e propósito de emenda. É o laço com que o Satanás arrasta para o inferno a maioria desses falsos penitentes. Diz o demônio ao pecador: Peca quanto quiseres, não tenhas medo: na Confissão tudo fica perdoado! O pecador, por sua vez, persuadido desta sugestão maligna, anda continuamente do pecado para a Confissão e da Confissão para o pecado, despreocupado em se corrigir, e de grau em grau vai parar no fogo eterno. É isto que o diabo quer. Pergunto: Sabeis quais são os cinco passos para uma boa Confissão: exame de consciência, arrependimento, propósito, declaração do poderio de Deus, satisfação? E que arrependimento quer dizer dor do coração, sincera e plena? Isto é, que não se deve pecar nem trocar Deus por coisas deste mundo: riquezas, prazeres, passeios, regalos do corpo, pais, filhos, família, amigos, e a própria vida nem que fossem umas mil vidas. Não sabeis que, para ser verdadeira, a dor do coração deve ir acompanhada do propósito, isto é, da resolução de aceitar perder tudo antes que perder a amizade de Deus e tornar a ofendê-lo; antes morrer do que pecar? E torno a perguntar: Quantos é que vão confessar-se ao Sacerdote, ministro do perdão, com todas as disposições que ensina o Catecismo, pelo resumo das Sagradas Escrituras? – Poucos! Bem poucos! A maioria, seja lá pela quaresma ou mensalmente, saem do confessionário e logo se entregam novamente aos antigos pecados, tudo como antes, sem emenda nenhuma. Isto equivale a ofender duplamente a Deus. Não é Sacramento. É sacrilégio, astúcia, armadilha do infernal inimigo. São confissões de futuros condenados. Confissões nulas – não duvideis. Assim, multidões de pessoas neste mundo andam enganadas com suas confissões. Porque declararam seus pecados e ouviram as palavras da absolvição, se persuadem de estarem perdoados... Engano do demônio. Penitentes – melhor, falsos penitentes – que repetem pecados mortais ano após ano e, muitas vezes, logo depois da Confissão, a sangue frio, com plena consciência de que são pecados repreendidos pelo Confessor e fustigados nos sermões, que provas poderão apresentar de verdadeira conversão para Deus? Como terão coragem de afirmar que estão dispostos a morrer, a perder tudo, antes que tornar a pecar? Quase todos os cristãos morrem confessados e absolvidos, é verdade. No entanto, grande parte deles se perde. Por quê? – Já está explicado: é porque muitíssimas confissões são nulas, precisamente por falta de dor. Ausência de dor e ausência de emenda, em matéria grave, não tem remédio! Ainda que intervenha o Sumo Pontífice, com todos os seus poderes, e dê mil absolvições a esse tal pecador petrificado no mal, não haverá salvação; sem choro nem piedade cairá no fogo eterno.

Como consequência, todos os pecadores que têm vivido no pecado, nele caindo e recaindo, não obstante suas muitas confissões, devem fazer uma Confissão geral com verdadeira dor e remorso. Somente deste modo podem ter sossego e esperança de salvação eterna. Porque andar sempre nos pecados é próprio dos condenados cá neste mundo, e quem assim vive não pode esperar de Deus senão o castigo lá no inferno. Cuidado em transformar em sacrilégio o ato divino da Confissão, Sacramento instituído pelo próprio Jesus em pessoa. Aproveitai-vos destes Ensinamentos, se quereis reformar a vossa vida e conseguir as bem-aventuranças.
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Todos estes Ensinamentos me foram ditados por Nosso Senhor Jesus Cristo. Cada palavra com toda a sua força, cada passagem, cada advertência, tudo Jesus bondosamente ditou para o bem de vossas almas. Ele fala aqui para mim e para todos aqueles que têm sede de Deus, para todos aqueles que querem viver como novas criaturas, livres e despidas do pecado e totalmente entregues a Deus. Nosso Senhor citou várias frases de Santos que eu não conheço ou de cujas vidas tenho bem pouco conhecimento. Mas, Ele disse que todos estes Ensinamentos vieram d’Ele, Ele já os havia transmitido nos séculos passados, mas foram esquecidos. Portanto, Ele não veio trazer o novo, mas mostrar-nos uma realidade, através destes Escritos dados à humanidade em outros tempos.
As passagens bíblicas citam algumas direcionadas por Jesus, mas não posso dizer a que tempo estão relacionadas ou em que Livro. Eu, apenas abri meus ouvidos para o Senhor e Ele mesmo ditou estas Mensagens, para meu melhoramento espiritual. Guardei estes Ensinamentos até o presente e agora, sob a direção do mesmo Senhor, coloco-os neste Livro, para instrução de muitos que passarão pelo AVISO do Senhor e que o Senhor não quer encontrá-los dormindo.

Pecados mal confessados

É certo que o demônio caça muitas almas na Confissão, fazendo com que o penitente cale seus pecados. Além dos pecados omitidos na Confissão, há outros três laços com que ele arrasta almas para o inferno:
- Pecado mal confessado, - Pecado desculpado, - Pecado declarado sem arrependimento.
Pecado mal confessado é o laço mais perigoso, porque é laço oculto. A pessoa pensa que fez boa Confissão, quando, na verdade, cometeu uma irreverência, um sacrilégio. Quem, conscientemente cala pecados graves na Confissão, sabe muito bem que continua preso, enlaçado nas garras do inimigo. Quem declara ao Confessor todos os pecados, mas de maneira incompleta, sem explicação das circunstâncias agravantes (assim será a acusação do demônio no Tribunal divino!), erradamente persuade-se de ter feito boa Confissão: assim enganado, mais seguro fica no laço de Satanás. É necessário, pois, confessar bem os pecados como eles são – obras, palavras, maus desejos, maus pensamentos consentidos - e não omitir as circunstâncias que os fazem mudar de espécie e os tornam mais graves. De todo o mal feito se deve dar ao Confessor pleno conhecimento, para que ele possa julgar e dar a sentença; quando não, é o mesmo que calar tudo e nada dizer; então, nem os pecados ficam perdoados, nem é válida essa confissão. Por isto, eu disse que este mau procedimento, essa confissão parcial, é o laço mais perigoso e que mais arrasta almas para o inferno. Perdem-se mais almas por pecados mal confessados do que por pecados conscientemente e de propósitos calados. Os penitentes são uns na Confissão, e são outros, fora da Confissão. Na Confissão parecem uns santos e inocentes; fora da Confissão não passam de verdadeiros e não pequenos pecadores... De sorte que a maior parte dessas confissões são iguais à de Aarão. Explico: Durante a caminhada do povo pelo deserto, Moisés costumava subir a montanha e ali se demorar na presença do Senhor. Numa dessas ocasiões o povo pediu a Aarão que fizesse para eles um deus que os guiasse pelo deserto (Êxodo 32,1-35). Diante deste pedido tão absurdo e ofensivo a Deus, que deveria fazer Aarão? – Deveria chamar, repreender, pegar em armas e eliminar aqueles idólatras! Mas, ao contrário, ele atendeu ao pedido do povo. Apesar de ser Sumo Sacerdote, irmão de Moisés, chefe condutor do povo, que guiava em nome de Deus, sem pensar no escândalo para toda aquela gente, mandou recolher todo o ouro que houvesse, fabricou um bezerro, que era o deus que lhe pediam, erigiu um altar onde colocou a estátua. As pessoas se aproximavam e declaravam em voz alta: Aqui está, ó israelitas, o Deus que te tirou do Egito! E Aarão mandou um pregoeiro convocar o povo: Amanhã haverá uma festa em honra do Senhor. Venham todos. No dia seguinte, adoraram o bezerro e lhe ofereceram sacrifício, como se fora Deus verdadeiro... Que vos parece, meus irmãos? Haverá crime mais horroroso do que o deste Sacerdote em consentir tais coisas? Não deveria dar mil vidas, se as tivera, para não permitir idolatria? Ouve agora como ele se desculpou. Ao clarear do dia, Moisés desceu e, ao observar o espetáculo, derrubou por terra o falso deus e o reduziu a pó. E disse ao seu irmão, que causara tanto mal: “Que fez esse povo, para lhe causares tão grande escândalo e seres a causa de tão grande pecado?” Aarão procurou se desculpar, se esquivar à responsabilidade, com a explicação: “Nós não sabemos do que é feito o Deus de Moisés, por isso faça-nos deuses que nos guiem por este deserto. Eu, porém lhes disse: Quem de vós tendes ouro? Eles me trouxeram, eu o coloquei no fogo e de lá do fogo saiu este bezerro” (Êxodo 32,21-24).

À vista de tal confissão, parece ser uma obra santa e admirável, porque arrojar ouro ao fogo, deveria ser para reduzi-lo a cinzas e tirar esta idolatria do povo. E dizer ele que do fogo saiu aquele bezerro! Temos um milagre extraordinário! Porém, não é assim: Ele mandou tirar o ouro das orelhas e ordenou que lhe trouxessem – ele mesmo fez o bezerro, e erigiu o altar em que foi colocado. Ele mesmo mandou pregar a sua festividade e deu àquele bezerro o nome de Senhor. Tal sentido que só a Deus se podia dar. Foi isso o que ele praticou, porém na sua confissão, tudo omitiu, dizendo somente o que lhe dava a reputação de santo. Ai está Aarão – santo na Confissão, péssimo mau exemplo fora da Confissão. Que me dizes? Não são assim as confissões de muitos pecadores? Eu penso que sim. Eu vejo por esse mundo inúmeros pecadores habituados no crime e na maldade. Vemos praguejadores, amaldiçoadores, blasfemos, bêbados, soberbos, irados, invejosos, vingativos, profanadores do dia santo, escarnecedores dos atos de piedade. Nesse mundo, tudo são crimes e maldades! Os Confessores sabem que não devem absolver o réu que não dê prova de sincero esforço de emenda. E não é de se presumir que eles queiram ir para o inferno por via dos penitentes; porém tudo passa. O que acontece é que raríssimas pessoas se confessam como se deve. Multidões se confessam mal: não explicam claramente como são os pecados, apenas se acusam de algumas sombras de pecado ou, até, chegam a pintá-los como virtude. É o que fez Aarão. Grandes iras e graves ódios são declarados como pequenas impaciências ou meros excessos. Péssimos atos de impureza, como se fossem apenas pensamentos. De graves omissões do dever de estado e de outros gravíssimos pecados nem se faz menção. Quase ninguém abre totalmente ao Confessor o coração. Até alguém diz que não é preciso dizer todos os pecados, e nem como foram. Quantas vezes, porém, as circunstâncias diminuem ou aumentam a gravidade do crime! Ah! Bem está o demônio com tais confissões e com tais penitentes. Desenganai-vos, quero dizer, libertai-vos do engano e cegueira a este respeito. No ato da Confissão, o penitente deve declarar os pecados com toda a exatidão e clareza, sem piedade de si mesmo. Se tiver dó de se acusar assim, o inimigo demônio não terá dó de acusá-lo no último Tribunal.
Tirai proveito destes Ensinamentos, se quereis salvar vossa alma.

Sobre a firmeza do propósito de nunca mais pecar

Todo cristão, para bem viver, deve formar na sua alma um firmíssimo propósito de nunca mais pecar; antes perder os seus bens, a sua fama, a sua própria vida do que tornar a ofender a Deus. Este propósito, esta resolução deve ser eficaz e é o principal fundamento da Vida Espiritual. Com esta resolução é que se conserva a graça e amizade de Deus, o direito ao Reino dos Céus; esta resolução é que torna os homens filhos de Deus, templos do Espírito Santo, os membros de Jesus Cristo, como tais participantes dos bens da Igreja. Enquanto a alma conserva este firmíssimo propósito, esta resolução eficaz é exata em estado de salvação; mas se este lhe faltar, logo será riscado do Livro da Vida e escrita no Livro da Morte Eterna, está em estado de condenação. O ser da vida espiritual consiste na Caridade: ora, a caridade é amar a Deus sobre todas as coisas. Logo, quem assim ama a Deus deve aborrecer o pecado, sobretudo, e não há de pecar, não há de ofender a Deus por coisa alguma deste mundo. Nesta resolução, os Santos Mártires é que se deixaram padecer tantos e tão horrorosos tormentos: eram assados vivos, eram esfolados, eram arrastados, eram despedaçados, só para não cometer um pecado mortal. Antes, preferiram passar por todos os tormentos do mundo do que estarem um só instante fora da graça e amizade de Deus. Assim, foram três mães que, tendo cada uma sete filhos e vendo martirizá-los e despedaçá-los, não desmaiaram: antes, pelo contrário, os animaram a morrer pela fé e obediência a Deus, tal era também a resolução desses homens a quem fala São Jerônimo, e diz São Jerônimo que os tiranos o quiseram fazer pecar forçadamente e, que para esse fim o fizeram deitar de costas, despojado de seus vestidos, numa cama branda em sombra das árvores de um ameno jardim, atando-lhe com certas ligaduras os pés e as mãos para que não pudesse fugir nem se defender. Feito isto, introduziram ali uma mulher mundana, bem adornada e asseada, a qual empregou todos os meios para vencer a virtude e a constância destes homens. Que deviam eles fazer como dolorosos soldados de Jesus Cristo? Que meio deveriam tomar para esta tão grande desonra, estando eles nus e ligados de mão e pés? Ali não lhes faltou a virtude do céu, nem a assistência do Espírito Santo que, para defendê-los do presente perigo, o inspirou o que fizesse: e fez uma coisa nova que jamais se viu: no mundo, isto é, teve tanto temor de Deus e ódio ao pecado, que chegou a cortar a própria língua com os dentes e cuspiu-a na cara dessa mulher depravada, a qual se espantou com tal acontecimento e fugiu dele. Isto é bastante para que conheçais quanto os Santos se aborreciam de um só pecado mortal. E que fazeis vós? Alguns de vós, não tendo recato nenhum, e nem resolução nem propósito, até procurais ocasiões de pecar, muitas vezes andais a dar largos passos para o inferno. Por toda parte não se observa sendo namoricos e pouca vergonha: até nos lugares sagrados se tem visto e observado os maiores escândalos. Sabe-se muito bem que o pecado é que leva o pecador a repreender o confessor, que é coisa oposta ao Evangelho, e ainda se torna a pecar mesmo por querer, e com plena advertência! O que é isto? Quem assim é ou pratica, não tem propósito nem temor a Deus, nem resolução; perdeu a fé ou o juízo, pouco lhe importa a sua salvação: e tanto caso faz do céu como de nada... Pois que teima é essa? À vista de tantos desenganos e de tantos benefícios divinos, ainda não queres deixar de pecar, esta teima é teima do inferno... Ai do mundo! O mundo vai perdido, vive perdido e não há quem possa dar remédio a tão grandes males! Que peguem essas pessoas que nunca assistiram uma Missa, que nunca fizeram uma Confissão Geral, que nunca freqüentaram os Sacramentos, não admiram mais que pequem. Aqueles que têm tudo isto, e que agora ainda estão piores do que no princípio, isto não sei como Deus o poderá sofrer: nem sei que remédio se há de dar a estas almas, porque já lhes aplicaram os remédios mais eficazes; a Missa, a Confissão Geral e a frequência dos Sacramentos. Almas ingratas a tantos benefícios divinos, almas infelizes, a vossa salvação é de todas a mais arriscada! Ora, pois, arrependei-vos agora e nunca mais torneis a pecar. Emendai-vos de tudo quanto for culpa e tomais uma resolução eficaz de nunca mais pecar nem ofender a Deus, ainda que percais os bens, a fama, ou a vida. Finalmente, confessai-vos com esta disposição, e então alcançareis o perdão de Deus.

A Eternidade

Considera pecador, terríveis e horrorosas são as penas do inferno. E o que representa maior tormento é o fato de serem penas eternas! A eternidade é o inferno do inferno! Então, que é eternidade? Eternidade é como um abismo sem fundo, um caminho sem fim, uma distância sem termo, um giro de dias, de meses e de anos que nunca termina... Passarão milhões de anos, tantos milhões quantas estrelas do firmamento, e lá estará o pecador a gritar no fogo do inferno, e lá continuará o pecador reprovado por Deus a gritar e clamar... Assim, outros milhões, bilhões de anos, e o pecador ainda a bradar sufocado de desespero no fogo, inextinguível para sempre. Todo esse tempo imenso, e a eternidade nem se mexeu: estará ainda inteira, sem nada lhe faltar, e o pecador mal terá começado sua eternidade de sofrimentos, que não terá fim. Oh eternidade! Oh eternidade! Temerosa eternidade! Quanto deves intimidar o pecador que não quis deixar o pecado nem se converter para Deus nesta breve existência terrena! Que me dizes agora, pecador, tu que já estás gritando e gemendo aí no inferno – que me dizes? Quando acabarão os teus tormentos? Quando findará o teu inferno? – Nunca!
Quando subirás ao reino dos céus? Quando verás a Face do teu Deus? Quando te verás assentado num trono de glória, ao lado dos anjos, a cantar com eles hinos de alegria e gratidão? – Nunca! Por quanto tempo durarão essas tuas blasfêmias, essas maldições contra Deus? – Para sempre! Oh, infeliz e realmente desgraçado, qual foi o motivo por que foste condenado? – Vaidade. Loucura... Que te resta agora dos bens do mundo, dos regalos, dos divertimentos e prazeres infames com que te manchaste? – Eterno padecer. Loucura! Cegueira! Acaso não tiveste avisos e não sofreste desenganos? Sim. Eu tive tudo, mas tudo desprezei, de tudo abusei e escarneci. Infeliz de mim! Eu me enganei, e aqui estou, em pranto, sufocado pela dor, e aqui estarei por toda a eternidade, enquanto Deus for Deus... Desgraçado de mim! Antes nunca tivesse nascido. Maldigo o dia do meu nascimento. Maldigo o pai que me gerou. Que sentença e que destino te esperam, pecador, se não decides deixar o pecado nem cuidar como deves em salvar atua alma, reformando a tua vida por meio de uma boa confissão? Tua vida é que vai responder. Tal vida, tal fim. Se neste momento, o mais breve possível, não cuidas em mudar de vida, não duvides, serás um condenado ao fogo eterno, onde encontrarás outros muitos com menos pecados que os teus. Lá estão sacerdotes escandalosos ou descuidados de seus deveres, muitos bispos negligentes, muitos reis, príncipes e ministros, muitos pais e mães que não educaram bem seus filhos, muitos filhos e filhas que desobedeceram a seus pais. Lá encontrarás velhos e novos, grandes e pequenos, vítimas da luxúria, da avareza, da soberba, da ira, da gula, da inveja, da preguiça (que são os “pecados capitais”). Lá, pessoas culpadas de omissão grave, de faltas à missa dominical, de profanação dos domingos e dias santos, de injúrias ao próximo... Todos esses condenados feito negros tições e horríveis sombras, na mais confusa desordem, a chorar, esbravejar e gritar: Eternidade, Eternidade, quando acabarás? - Nunca! – responderão os demônios. - Até quando, até quando padeceremos? - Para sempre, para sempre. Oh pecador, que vives nesta terra envolvido nos vícios e dominado pelos pecados, que me dizes? Acreditas nestas verdades, acreditas no inferno e na eternidade? Se não acreditas, estás renegando a Sagrada Escritura, as verdades reveladas e inteiramente a fé, e nem católico és. Se me dizes que acreditas e, não obstante, teimas em viver no pecado, então és um insensato, um louco. Porque podendo muito bem salvar a tua alma, pendes para o abismo da reprovação e condenação ao inferno. 
Ai da humanidade! Quão perdida está! Todos cuidam do corpo, poucos se lembram da alma. Todos pensam na vida presente, quase ninguém se prepara para a vida eterna. Vivem imaginando a cada instante em como adquirir dinheiro e bens temporais, e nem em sonhos pensam em alcançar o reino dos céus. Oh santa fé! À custa do maior sofrimento o Filho de Deus te plantou, mas para a maior parte da humanidade foi inútil, quase tudo perdido: quase todos têm o coração voltado para o mundo e não para Deus. Quase todos têm mais amor às coisas do mundo e por elas se fadigam, enquanto bem poucos cuidam dos interesses e assuntos de Deus. Criatura mundana vê que o mundo se arruína. Desapega-te já do mundo e empreende outro modo de vida: deixa o pecado, vive para Deus, volta teu coração para Deus e não para o mundo.
E como nada podes sem a graça divina, recorre à Mãe das Graças.

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